sábado, 27 de março de 2010

E-pifanias - Pequenas histórias para acordar. Carlos Seabra


Temos que admitir: ler textos longos na tela de um computador é um saco. Cansa, os olhos ardem, sem falar que o computador é algo dinâmico e, realmente, não foi feito para exibir páginas de livro. Imagina, então, ler um romance. Não dá. Por isso que ainda não vingou a venda  de "e-books" ou dos "livros-eletrônicos". Ninguém em sã consciência irá ler, por exemplo, um romance na telinha ou, pior ainda, imprimir o livro inteiro na sua impressora. Haja papel e, claro, tinta! Mas e os tais de “E-readers”? “Kindle”, “Sony Reader”, “iPad”, eles estão  por aí. Bem, mas aí é outra história. Estamos prestes a testemunhar um evento histórico. O livro eletrônico ou, mais precisamente falando, o  "e-reader" ou o "leitor-eletrônico". Não literalmente um livro como já conhecemos, mas um aparelhozinho que irá reproduzir os já famosos “E-books”, sem termos de alugar o monitor do PC. Além de reproduzir, pode armazenar não apenas alguns, mas milhares de e-books. Finalmente poderemos carregar uma verdadeira biblioteca debaixo do braço.

Os "e-books" já vêm se popularizando há muito, mas o que ainda não vingou também foi o público, os seus leitores. Eu, por exemplo, admito, sou conservador e gosto de ler  livros tradicionais, sentado numa poltrona confortável, sem cansar os olhos. Entretanto, até agora o único lugar para se ler um e-book é a tela do seu computador pessoal. Não dá. Exceto se o tal do "e-book" tiver textos curtos e, claro, com uma interface amigável ou, pelo menos,  que faça o leitor ter a impressão de que está lendo realmente um livro físico tradicional. É o caso do livro que acabei de ler, em poucos minutos: “E-pifanias”, de Carlos Seabra, neste endereço:

“E-pifanias - Pequenas histórias para acordar”, de Carlos Seabra é um e-book “muito bem estudado” e se enquadra num modelo, como posso dizer?, padrão, cujas características o permitem ser lido “on line”. “Sem estresse”, são textos curtos, classificados popularmente hoje, como de “micronarrativas” (vide “Minicontando”, de Ana Melo). As micronarrativas de Carlos Seabra, em “E-pifanias”, não tem títulos e, ao lê-las, o leitor não sente falta deles. Embora seja forte a presença do humor nas suas micronarrativas, elas fogem completamente da anedota ou piada, estas consideradas sub-literárias. “Além do que”, ninguém se enriquece culturalmente, ou pode ser considerado “culto”, por saber de cor 200 piadas “negro-racistas” ou que abordem a desproposital e absurda polêmica sobre a masculidade dos gaúchos. As micronarrativas, minicontos, ou microcontos são, a meu ver, literatura contemporânea, muito atual e necessária para uma época em que o tempo nunca foi tão veloz. Como muito bem comentam Luís Ene e Paulo Rodrigues Ferreira, no duplo prefácio (os textos mais longos do e-book: duas páginas), Carlos Seabra escreve bem, muito bem, com maestria, domínio e segurança no seu poder de concisão. Hoje em dia, dizer muito em poucas palavras não é só uma arte, é uma necessidade, pois os relógios atuais nunca foram tão impiedosos:

“Era um assassino serial. Matou a aula e foi ao cinema. Traçou um lanche e matou a fome. Depois, sem mais nada para fazer, ficou matando o tempo.”;

“Lolita era tão terrível na arte da sedução que seu ursinho de pelúcia vivia morto de tesão.”;

“A mulher-gorila fugiu com os irmãos siameses. Denunciados pelo dono do circo, eles foram presos por bestialismo e ela por bigamia.”

Como se pode ver, as micronarrativas de Carlos Seabra, em seu “E-pifanias”, são divertidas e muito bem humoradas, com aquele toque sutil que só um bom escritor sabe dar, às vezes irônico, em outras debochado, ou genial, como esta, a que mais gostei, quase uma “parábola” sobre união:

“Os semícaros eram um povo unialado, cada qual com uma única asa. Para voar, tinham que escolher alguém e se abraçar.”

Sobre o autor:
“Carlos Seabra trabalha com criação de jogos e com uso das novas tecnologias nas áreas de educação, cultura e sociedade. Escreve microcontos e também haicais (um sujeito preguiçoso, vê-se logo!). Mora em São Paulo, Brasil, há mais de trinta anos. Nasceu, há mais de cinqüenta anos, em Lisboa, Portugal.”


Sobre E-books de leitura gratuita, acesse:



Um comentário:

  1. Uau! Fiquei muito feliz com seus comentários, Ramiro. Obrigado!

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