segunda-feira, 8 de março de 2010

Como falar dos livros que não lemos? Pierre Bayard


Calma, calma! O título é sensacionalista, eu sei. Mas o livro não é. Também não se trata de um livro do tipo “como ficar rico abrindo uma igreja na esquina?” ou, pior, “como emagrecer dormindo?”. Muito menos uma apologia à “não-leitura”. O título “Como falar dos livros que não lemos?” tem segundas e terceiras intenções. Primeiramente, foi para chamar a atenção mesmo e, segundo, porque muitas vezes nos deparamos com situações em que somos pegos de surpresa ao termos de comentar sobre livros que apenas ouvimos falar e não lemos. E aí? Não há solução milagrosa. O livro de Bayard não é um manual para espertalhões, nem estimula o fim da leitura. O professor de literatura Pierre Bayard apresenta ao público um ensaio, fruto de sua própria experiência profissional, muito bem humorado, lúdico e, ao mesmo tempo, faz um desafio ao leitor.

Com a leitura deste livro é possível que o leitor se livre da “culpa” e da “vergonha”. Agora poderemos interromper a leitura daquele livro chato, monótono, não merecedor do nosso precioso tempo, sem nos sentirmos culpados. Claro! Fica só aquele arrependimento de ter gasto um dinheirinho à-toa. E como tem livros assim! Eu, particularmente, não faço resenha ou comentário dos livros que não gostei. Fazer crítica negativa também é um marketing. Por isso, aos livros ruins concedo o esquecimento. Pierre Bayard veio para dar apoio ao leitor tradicional e dicas para leitores iniciantes. O autor cria categorias de livros. Os que não lemos, aqueles que apenas folheamos, outros que ouvimos falar e até os livros esquecidos.

Pierre Bayard defende o desenvolvimento “saudável” do leitor. Para o autor, todos os tipos de leitura e de “não-leitura” são válidos e ajudam a entender o mundo, absorvendo todo o tipo de informação. Bayard é categórico ao dizer que “a não-leitura não é a ausência de leitura”. A “não-leitura” é uma ação positiva, consistindo num ato de organização do leitor diante da imensidão de livros que estão a nossa disposição. O leitor deve saber selecionar os livros por áreas de interesse, por gosto pessoal, por resenhas, pelos comentários da capa, pelas orelhas dos livros, por sugestões de críticos. E, ainda assim, sempre submeter o livro ao seu crivo pessoal. Bayard nos lembra que o livro não pode ser visto como uma ferramenta para se enriquecer culturalmente, ou impressionar os outros. Segundo o autor, o livro deve ser visto como uma forma de autoconhecimento: "O paradoxo da leitura é que o caminho em direção a si mesmo passa pelo livro, mas deve continuar sendo uma passagem. É uma travessia de livros que o bom leitor realiza, sabendo que cada um deles é portador de uma parte dele mesmo e pode lhe abrir um caminho, se tiver a sabedoria de não parar ali."

“Como falar dos livros que não lemos?”, de Pierre Bayard, é da Editora Objetiva, preço médio R$29,00.