Um experimento literário. Vale pela arte de escrever (o que for). Inspirados pelo famoso microconto ou miniconto (a distinção é tão sutil que confunde, mas há quem distinga com precisão) do escritor hondurenho, Augusto Monterroso (Bonilla)*, que nasceu em 21/12/1921 em Tegucigalpa, falecendo em 07/02/2003:
“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.”
Um “microconto” com 37 letras que se tornou mundialmente famoso. Foi inspirado nele que o escritor Marcelino Freire (Balé Ralé, Contos Negreiros) resolveu desafiar cem escritores brasileiros para escreverem “histórias” inéditas com até 50 “LETRAS” e não “palavras”. Uma tarefa difícil e que requer um poder de concisão muito apurado. Nos “textos” publicados pelos cem (103) escritores há de tudo um pouco. Doidice sem tamanho, coisa “sem-pé-nem-cabeça”, absurdos despropositais, literatura “conceitual”, “bobiças” para rir um pouco. Não bastasse o tamanho diminuto do livro (13x11cm), que ficou parecido com aquelas pequenas bíblias encontradas nas gavetas de criado-mudo de cama de hotel de terceira. Salvam o livro (ainda bem!) os “textos” de alguns escritores que se propuseram a dar valor ao que levaria seus nomes:
“Faço amizade comigo para tomar uma cerveja.” (in “Fossa”, de Fabrício Carpinejar, p.27);
“Pronto nos olhos, o pranto só espera a notícia.” (in “Vigília”, de João Anzanello Carrascoza, p. 38);
“Banheiro na chamada do vôo. Cálculo renal salta. Ele guarda.” (in “Aeroporto”, de João Gilberto Noll, p. 40);
“- Cabeça?/ - É. / - De quem? / - Não sei. O dono não tá junto.” (in “Disque-denúncia”, de Marçal Aquino, p. 55);
“- Se atrasa, preocupa. Quando chega, incomoda. / - Menstruação? / - Meu marido.” (in “Chico”, de Nelson de Oliveira, p.73);
“Madrugada. / Ele as esmaga com os pés, dá-lhes chance de ferroar.” (sem título, Paulo Scott, p. 77).
Um destaque especial para o cineasta e escritor gaúcho Jorge Furtado:
“- Eu não te amo mais./ – O quê? Fale mais alto, a ligação está horrível!” (sem título, p. 43)
Marcelino Freire, o organizador, é salvo pelo título:
“Ajoelhe, meu filho. E reze.” (in “Pedofilia”, p.56)
Mas o que realmente salva o livro é o texto de Sérgio Roveri:
“- É espinha?/ - Cravo. / - Posso apertar?/ - Não!/ (Ploc)/ - Ai, que nojo.” (p. 93)
Se despertei curiosidade, o livro “Os cem menores contos brasileiros do século” é de 2004, publicado pela Ateliê Editorial, com 104 páginas, paguei R$35,00 pela Internet. Caro. É bom para aprender.
(*)http://es.wikipedia.org/wiki/Augusto_Monterroso