quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Torvelinho dia e noite. José J. Veiga


Em "Torvelinho Dia e Noite", José J. Veiga não foge da temática do realismo mágico, só que desta vez o faz mais sutilmente, de maneira estratégica. O assombro vem bem aos poucos, como crendice popular, “diz-que-diz-que”, mero boato, até que o surpreendente e o fantástico, sempre presente em seus livros, vai sendo absorvido pelos personagens, e também pelo leitor, como normalidade. Muito mais que metafórico, o mágico de Veiga é a nossa realidade, mas nós, ao nos tornarmos adultos, é que perdemos a capacidade e só não vemos por mera teimosia e pretensa arrogância.

Acontecimentos particulares e universais são descritos, pelo modo muito pessoal do autor, revelando-nos os medos e as grandes preocupações do homem moderno. Em "Torvelinho Dia e Noite", uma pequena cidade de interior de Minas Gerais, acontecimentos estranhos e misteriosos provocam profundas mudanças no comportamento e nos hábitos cotidianos dos seus habitantes. Fantasmas são vistos por várias pessoas, repetindo a temática da alucinação coletiva, que é o remédio e não a doença; há uma invasão de estranhos, turistas e desocupados, perturbando o sossego dos habitantes; e as flores, muitas flores, que falam, e transformam a cidade numa selva, voltando mais uma vez à análise comportamental das pessoas com o inusitado.

Esta obra de José J. Veiga, mais uma vez deixa uma dúvida: trata-se de um romance ou uma fábula moderna? Apesar desta incerteza, "Torvelinho Dia e Noite" é uma divertida história de suspense, abordando o amadurecimento das pessoas, quando são pressionadas por "acontecimentos insólitos", sentindo que a realidade cede lugar à fantasia.

O fantástico utilizado nas obras de José J. Veiga difere, e muito, daquele de outros grandes autores do gênero, como Kafka, Borges e Cortázar. O autor brasileiro nos exibe um mundo fantástico "a partir da mais corriqueira realidade", fazendo com que o leitor se identifique muito com o que lê, sem susto ou descrença. E, mais uma vez, Veiga nos presenteia com os incríveis topônimos de sua autoria, assim como a cidade de “Manairarema” de “A hora dos ruminantes” e a “Taitara” de “A sombra de reis barbudos”, agora é a vez de “Torvelinho”.

Com uma maneira genuína de escrever, o escritor goiano é hoje considerado um dos nomes mais brilhantes da literatura nacional, cujos livros não se prendem a tempo ou lugar, exemplo de obras universais, muitas das quais traduzidas com sucesso para vários países.

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