Muito provavelmente, o que deve
ter movido o autor de “Por que Paulo Coelho teve sucesso?”, o Doutor Mário
Maestri, a escrever, tenha sido a eterna e incômoda dúvida que paira sobre todo
a obra do “fenômeno” Paulo Coelho. Rejeitado pela crítica literária, mas um
sucesso de vendas.
Desde o final dos anos 80, Paulo
Coelho já frequentava as páginas dos jornais e revistas, e era visto em todos
os canais de televisão dando entrevistas. No entanto, seu primeiro livro de
sucesso, “O Alquimista”, fora rejeitado em três editoras, para então, estranha
e repentinamente, ser aceito e publicado pela Editora Rocco e estourar, tendo o
êxito de vendas que ainda persiste. Em entrevista à extinta revista eletrônica
e cultural Submarino, em 2001, Paulo simplificou explicando que o que aconteceu
foi apenas fruto justamente da polêmica que se criara em torno dele,
justificando a popular frase “falem mal, falem bem, mas falem de mim”.
Mário Maestri, ao escrever este
“Por que Paulo Coelho teve sucesso?”, correu o risco de ser tachado de
oportunista e vender às custas do polêmico escritor, mas não foi bem isso o que
Maestri intencionava, ou não foi isso que aconteceu. Junto com outros livros
que agora estão por aí, para quem queira tentar entender o que é a “obra” de
Paulo Coelho, o livro de Mário Maestri é apenas um referencial e uma boa dica.
Chego a dizer que agora faz um espécie de "dueto" com outro livro
similar, o do escritor Janilto Andrade, cujo livro recebeu um nome muito
parecido “Por que não ler Paulo Coelho”(?), da Editora Calibán, 2004.
Já com escritor Janilto Andrade é
possível sentir a indignação com a “obra” de Paulo Coelho, pois ele é taxativo:
“os diálogos são entediantes, de espiritualidade aguada, um estilo sem
estilo que não exige do leitor ‘qualquer esforço mental’ e produz ‘reações
idênticas, controladas e desprovidas de lances de encanto e de novidade’”. Mas
o Mário Maestri procurou ser menos emocional e tentou ser o mais objetivo
possível e já no início do livro diz: “Paulo Coelho obteve uma grande
acolhida porque pôs à disposição de um imenso público, sobretudo pouco
habituado ao consumo de literatura, uma produção ficcional de fácil consumo que
se encontra em profunda consonância com as transformações sociais, culturais e
ideológicas em curso, em fins dos anos 1980. A literatura de Paulo Coelho teve
êxito porque apresenta um produto cultural, sob uma forma possível de ser
facilmente consumida, com um conteúdo para o qual o público consumidor já se
encontrava predisposto. Paradoxalmente, algumas das limitações formais
criticadas pelos especialistas da ficção coelhiana parecem constituir atributos
imprescindíveis a sua ampla divulgação.”
Mário Maestri faz, em “Por que
Paulo Coelho teve sucesso?”, um verdadeiro tratado analítico da “vasta, diversa
e misteriosa obra” coelhista, frisando algumas “reiterações” excessivamente
“repetidas” (redundância proposital minha), dividindo seu livro com títulos que
ajudam o leitor a compreender melhor seus pontos de vista, tais como: “Animando
o inanimado”; “Demônios de araque”; “Promoção diabólica”; “A magia yuppie de
Paulo Coelho”; “elegantes residências”; “Público certo, conteúdo incerto”;
“Sempre mulheres”; “Aproximando-se da auto-ajuda”.
Em entrevista, ao Jornal “O Povo”, de
Fortaleza, Mário Maestri é categórico: “A leitura, por si só, não eleva.
Literatura racista, sexista ou irracionalista reforça o racismo, o sexismo e o
irracionalismo. As telenovelas não levam ao bom teatro ou ao bom cinema. A
música brega não introduz à popular e à erudita de valor. O caminho para
Graciliano Ramos não passa por Paulo Coelho.”
O professor e escritor Gabriel
Perissé (Rio de Janeiro, 1962) é franco e chega a ser “pessimista”, ao prever o
“pior”, e corrobora as conclusões a que chegou Mário Maestri: “Paulo Coelho, em
plena Páscoa, que trazes para mim? Ao longo do livro, sem a menor sutileza, o
autor distribui auto-referências. O protagonista é o escritor Paulo Coelho
disfarçado de Paulo Coelho. Elogios velados a si mesmo, como escritor
incompreendido pela crítica, como escritor cujo poder está em ter aceitado o
milagre de ser escritor.” “De repente, percebi que estava dando voltas no
deserto, e que volta e meia sempre aparecia o advérbio "sempre", em
construções como "Esther sempre comentara..." (pág. 15), "aquele
tipo de coisa que sempre..." (pág. 22), "tomar chocolate quente com
Esther sempre que..." (pág. 23), "Esther sempre descrevia..."
(pág. 24), "tanto eu como Esther sempre..." (pág. 26), "logo eu,
que sempre..." (pág. 27), "elas sempre em busca..." (pág. 30),
"sempre poderei ser..." (pág. 34), "Sempre poderei voltar..."
(pág. 34), "sabendo que sempre posso..." (pág. 35), "que está
ali com seu jeito sempre silencioso..." (pág. 37) – fiquei hipnotizado,
jamais vi tantos "sempres"...”. “Confesso minha fraqueza. Folheei com
rapidez as noventa páginas derradeiras, li as duas últimas sem surpresa e sem
remorso. Influenciado pela leitura, porém, passei a ter visões: em 2007, ao
completar 60 anos de idade, Paulo Coelho receberá o Prêmio Nobel de
Literatura... Ou da Paz.”.
Particularmente, não me
surpreendi com o que li no livro de Mário Maestri. Apenas quis ter o respaldo
de alguém de peso e com competência para criticar. Acrescento, então, dizendo
que o “fenômeno” Paulo Coelho é fruto de uma estratégia de Marketing de
sucesso, típica jogada de mercado de um país como o Brasil. Quando for feito um
paralelo com outros países vizinhos, nós ficaremos decepcionados com o
resultado dessa “estratégia de marketing brasileira de sucesso”, pois o mundo
lembrará na ponta da língua de alguns escritores renomados: da Argentina, o
mundo lembrará de “Jorge Luís Borges”, “Julio Cortázar”; do Chile, de “Pablo
Neruda”; da Colômbia, de “Gabriel Garcia Marquez; e, do Brasil? Não, lá fora
ninguém lembrará de “Graciliano Ramos”, “Guimarães Rosa”, “Jorge Amado”,
“Fernando Sabino”, “Carlos Drummond de Andrade”, “José J. Veiga”. O mundo
lembrará é de Paulo Coelho, o escritor brasileiro que mais vendeu no mundo, em
toda a história, já superando os 30 milhões de livros vendidos. E devo desejar
uma "boa leitura"?!
Mário Maestri é gaúcho, foi
refugiado político de 1971 a 1977. É Doutor em História pela UCL, Bélgica, e
trabalha, atualmente, no Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade
de Passo Fundo, RS. Tem livros publicados na França, na Bélgica, na Itália e no
Brasil.