Com "Inês é morta", de Roberto Drummond o leitor faz uma verdadeira viagem aos sombrios e cinzentos anos da ditadura militar no Brasil. Sob uma incomum narrativa em 2ª pessoa do singular, a vida de um medíocre ator mineiro desempregado é antecipada por uma vidente. Prevendo e analisando os dilemas, os conflitos, as fraquezas de um ator mal sucedido e desempregado que se vê condenado a se passar como dublê de um ditador. Roberto Drummond, com um excepcional domínio da técnica literária, apresenta a vida de Jonas Santiago, um mineiro forçado a se transformar num militar gaúcho, num misto de Médice, Geisel e Figueiredo. Utilizando vários recursos, o autor disseca e expõe visceralmente o lado oculto da ditadura militar no Brasil, para que tamanha barbárie não caia no esquecimento. Para um povo com memória curta, os vinte anos de ditadura militar revelam o extremo da ausência de direitos, onde os piores absurdos foram cometidos sob o jugo do medo, fruto de quem agia sob o domínio da ignorância e da desinformação. Sem ser maçante, o romance vai da tragédia ao hilário, com doses comedidas de lirismo e saudosismo. Uma verdadeira aula de história do Brasil contemporâneo. Contrastando hábitos mineiros, gaúchos, música, arte, futebol, tradições, o autor nos exibe a grandeza e a riqueza do Brasil como nação. E que os 20 anos de ditadura militar sejam sempre lembrados como a pior experiência política que já tivemos, esperando que jamais venha a se repetir. Autor de "Sangue de Coca-Cola", "Hilda Furacão" e "Quando fui morto em Cuba", Roberto Drummond sempre foi um inovador, um escritor de vanguarda, criando bases de uma nova literatura. Que bom que o Brasil teve Roberto Drummond para nos avivar a memória, lembrando-nos de que não devemos esquecer dos anos 70.
Roberto Drummond faleceu em 2002, aos 68 anos.
"Inês é morta" foi editado pela Geração Editorial, São Paulo, em 2002, 5ª ed.
Roberto Drummond faleceu em 2002, aos 68 anos.
"Inês é morta" foi editado pela Geração Editorial, São Paulo, em 2002, 5ª ed.
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