sábado, 24 de outubro de 2009

1. De Gonçalo M. Tavares


Gonçalo M. Tavares é um “possuído”, como disse o poeta gaúch
o Fabrício Carpinejar, ao prefaciar a edição brasileira de “1” (em algarismo mesmo), pois este fenômeno literário português escreve como se não fosse um só. E escreve magnífica e prolificamente (14 livros em três anos), além de um estranho costume de numerar seus livros, organizando-os em séries e linhas.

Batizado de 1, este livro é sua primeira obra lançada no Brasil, no qual Gonçalo M. Tavares nos mostra “seu lirismo armado sobre imagens naturais e concretas enquanto assobia por meio de seus versos uma melodia ao mesmo tempo peculiar, desconcertante e reveladora” *.

Neste livro do escritor português estão reunidos oito livros de poemas, assim denominados, como se fossem capítulos: Observações; Livro dos ossos; Atenas e a metafísica; Frio no Alaska; Homenagem; Explicações científicas e outros poemas; Autobiografia; e Livro das investigações claras. São exatamente 217 páginas de puro deleite, viagem a “universos paralelos” e “retratos da frágil condição humana e da natureza bruta”, conforme os comentários de Carpinejar e José Mario Silva, respectivamente.

Em Gonçalo M. Tavares não há nada da poesia tradicional, com seus excessos, seja de “sentimentos derramados, autobiográficos, egos inflamados ou confidências de um diário”. Há, isso sim, o novo, moderno, atual, por muitos denominada de “ficção poética”, capaz de ter história e enredo. Seguindo o raciocínio de que “poesia não é um crime premeditado, em que o escritor forja álibis e procura esconder as pistas” (Carpinejar). Senão, vejamos:

“Uma senhora, quarenta anos de rosto e trinta de biologia.”

“A digestão é a ação mais excitante de um solitário.”

“A mulher hesita entre o adultério e uma conversa.”

“Não é possível atirar água à matemática.”

“Quanto ao Verão: esse período nefasto e quente/ Não apresenta qualquer talento/ para a chuva, diga-se./ Como o mudo que se concentra excessivamente/ Para proferir um assobio magrinho/ E acaba por tropeçar de maneira desastrada,/ Caindo de uma altura/ Desagradável,/ E falecendo. O Verão, de facto,/ Seria insuportável, não fosse/ O futuro e a cerveja.”

Gonçalo M. Tavares é português, natural de Angola, nascido em Agosto de 1970. O seu primeiro livro de poesia foi “Livro da Dança”, publicado em 2001 em Portugal.

Este livro é de 2005, editado no Brasil pela Editora Bertrand Brasil Ltda.

(*) - vide o endereço http://www.planetanews.com/produto/L/65953.

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