Sim, Um Terno de Pássaros ao Sul (o terno – também semivelado – é formado pelo pai, pelo filho e pela mãe citada de soslaio, todos poetas) é uma carta ao pai em versos; mas é também uma carta ao pampa, que aparece vetusto em retratos de farinha e carne seca. E que dizer do pedido pela volta, que vira clamor no andar do poema e termina com a síntese justa e invertida da frase, que ademais é poética até o fim do mundo? Depois de tanto "Volta ao pampa, pai" o arremesso sábio, a divisão da culpa na sentença "Volta ao pai, pampa." é é final de verdade, clímax, ápice e píncaro, fecho de ouro.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Um Terno de Pássaros ao Sul. Fabrício Carpinejar
Sim, Um Terno de Pássaros ao Sul (o terno – também semivelado – é formado pelo pai, pelo filho e pela mãe citada de soslaio, todos poetas) é uma carta ao pai em versos; mas é também uma carta ao pampa, que aparece vetusto em retratos de farinha e carne seca. E que dizer do pedido pela volta, que vira clamor no andar do poema e termina com a síntese justa e invertida da frase, que ademais é poética até o fim do mundo? Depois de tanto "Volta ao pampa, pai" o arremesso sábio, a divisão da culpa na sentença "Volta ao pai, pampa." é é final de verdade, clímax, ápice e píncaro, fecho de ouro.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Blablablogue – Crônicas e Confissões. Organizado por Nelson de Oliveira.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Os cem menores contos brasileiros do século. Organizado por Marcelino Freire.

Um experimento literário. Vale pela arte de escrever (o que for). Inspirados pelo famoso microconto ou miniconto (a distinção é tão sutil que confunde, mas há quem distinga com precisão) do escritor hondurenho, Augusto Monterroso (Bonilla)*, que nasceu em 21/12/1921 em Tegucigalpa, falecendo em 07/02/2003:
“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.”
Um “microconto” com 37 letras que se tornou mundialmente famoso. Foi inspirado nele que o escritor Marcelino Freire (Balé Ralé, Contos Negreiros) resolveu desafiar cem escritores brasileiros para escreverem “histórias” inéditas com até 50 “LETRAS” e não “palavras”. Uma tarefa difícil e que requer um poder de concisão muito apurado. Nos “textos” publicados pelos cem (103) escritores há de tudo um pouco. Doidice sem tamanho, coisa “sem-pé-nem-cabeça”, absurdos despropositais, literatura “conceitual”, “bobiças” para rir um pouco. Não bastasse o tamanho diminuto do livro (13x11cm), que ficou parecido com aquelas pequenas bíblias encontradas nas gavetas de criado-mudo de cama de hotel de terceira. Salvam o livro (ainda bem!) os “textos” de alguns escritores que se propuseram a dar valor ao que levaria seus nomes:
“Faço amizade comigo para tomar uma cerveja.” (in “Fossa”, de Fabrício Carpinejar, p.27);
“Pronto nos olhos, o pranto só espera a notícia.” (in “Vigília”, de João Anzanello Carrascoza, p. 38);
“Banheiro na chamada do vôo. Cálculo renal salta. Ele guarda.” (in “Aeroporto”, de João Gilberto Noll, p. 40);
“- Cabeça?/ - É. / - De quem? / - Não sei. O dono não tá junto.” (in “Disque-denúncia”, de Marçal Aquino, p. 55);
“- Se atrasa, preocupa. Quando chega, incomoda. / - Menstruação? / - Meu marido.” (in “Chico”, de Nelson de Oliveira, p.73);
“Madrugada. / Ele as esmaga com os pés, dá-lhes chance de ferroar.” (sem título, Paulo Scott, p. 77).
Um destaque especial para o cineasta e escritor gaúcho Jorge Furtado:
“- Eu não te amo mais./ – O quê? Fale mais alto, a ligação está horrível!” (sem título, p. 43)
Marcelino Freire, o organizador, é salvo pelo título:
“Ajoelhe, meu filho. E reze.” (in “Pedofilia”, p.56)
Mas o que realmente salva o livro é o texto de Sérgio Roveri:
“- É espinha?/ - Cravo. / - Posso apertar?/ - Não!/ (Ploc)/ - Ai, que nojo.” (p. 93)
Se despertei curiosidade, o livro “Os cem menores contos brasileiros do século” é de 2004, publicado pela Ateliê Editorial, com 104 páginas, paguei R$35,00 pela Internet. Caro. É bom para aprender.
(*)http://es.wikipedia.org/wiki/Augusto_Monterroso