Recentemente, ouvi um aspirante a escritor dizer: “o escritor Fulano disse que a estrutura de um conto são duas linhas paralelas que se cruzam no final”. Não quis discordar, e nem concordei. Aliás, fiquei calado. Na verdade não há fórmula, nem mágica. O conto contemporâneo da Literatura Brasileira Atual só é chamado de Conto, por não se enquadrar na Crônica, nem no Romance. E não venham os “tradicionalistas” teóricos tentar me convencer de outra maneira. Sempre houve esta péssima mania de alguns estudiosos de criar rótulos para tudo e, assim, se sentirem mais seguros para falar, colocando num mesmo saco, pessoas, idéias e histórias completamente distintas e sem qualquer afinidade.
O livro de Luisa Geisler é um livro de contos, até no título: “Contos de Mentira”. Carrega o fardo(?) de ser vencedor do Concurso SESC de Literatura de 2010. Quantos milhares de outros livros concorreram? E o de Luisa venceu. Já li outros vencedores deste concurso e não gostei de todos. Concursos literários não são garantia de nada. Sempre há o maior e mais importante obstáculo (-meta): conquistar o leitor comum. E eu me enquadro nesta simplificação. Entretanto o que li me surpreendeu em vários aspectos: Luísa Geisler é jovem (nasceu em 1991), mas escreve como alguém muito, mas muito mais velha (no sentido de experiente); trouxe a oralidade do linguajar porto-alegrense para a escrita de forma natural e simplificada, sem estigmatizar com regionalismo; seus contos não são “duas linhas paralelas que se cruzam no final”, antes ao contrário, fogem disso; são passagens de histórias que obrigam o leitor a imaginar um provável início ou, talvez, um fim, a continuação; ou são contos em que já se está no epílogo e traz somente o necessário para que o leitor se divirta com o mais importante da história, pois, caso alguns contos fossem mais longos, perderíamos o foco num provável tédio daquela “encheção de lingüiça” de alguns autores mais tradicionais. Particularmente, dos 17 contos, relativamente curtos, bem como eu gosto, faço ressalva, por ordem de preferência, aos: "O vinco" (p.89); "Apenas este réquiem para tantas memórias" (p.7) e "ESPM" (p.111).
Luísa Geisler já se mostra uma escritora com larga experiência, apesar (?) da idade, prova de que não são os anos vividos que nos amadurecem, mas sim a forma como vemos o mundo que se passa diante de nós todos os dias. Torço para que esta escritora lance mais livros e que alcance o merecido sucesso, pois são escritores assim que fazem a verdadeira Literatura Brasileira Contemporânea. Uma escritora que entra no mesmo nível de Paulo Scott, Marcelino Freire, Ronaldo Bressame, Verônica Stigger e outros já mencionados neste blogue. Luísa Geisler, além de tudo, é gaúcha natural de Canoas e escreve para o Mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário