"O crítico de teatro carioca Antônio Martins é levado ao banco dos réus pelos desdobramentos criminais de suas relações suspeitas com Inês, uma jovem bela, misteriosa e manca. Ao tentar reconstituir retrospectivamente sua história, deixa abertas várias possibilidades contraditórias de interpretar o que se passou.
Teria ele sido vítima de uma armadilha elaborada pelo artista plástico Vitório Brancatti, protetor e possível amante de Inês? Estaria ele próprio falando a verdade sobre seu relacionamento com a moça?
Misturando trama policial e um erotismo insólito numa narrativa que contém em si sua própria crítica, Um crime delicado expõe de modo sutil os atritos entre arte e crítica como dois modos distintos e possessivos de representação da vida." (contra-capa do livro)
"Se você quer saber a minha opinião? O livro “Um crime delicado” fala da relação do crítico com a obra de arte. Uma relação, algumas vezes, autoritária e agressiva. Mas essa é a minha opinião.
“Um crime delicado”, de Sérgio Sant’anna, é um desses livros sobre o qual você pode passar horas especulando a respeito, tentando traduzir as metáforas presentes ali. É uma obra aberta, diria Umberto Eco, passível de inúmeras interpretações. Sob o meu ponto de vista, literatura de primeira.
O enredo é mais ou menos assim: o crítico de teatro Antônio Martins (o narrador-personagem) se apaixona por Inês, manca, musa e amante do artista plástico Vitório Brancatti. Já o crime delicado do título seria o enigmático estupro cometido (ou não) por Martins.
O que Beto Brant fez ao levar o romance de Sant’anna para o cinema foi construir mais um olhar possível sobre “Um crime delicado”, adaptando inclusive alguns elementos presentes no livro. No cinema, o título da obra perde o artigo “um”; Inês não é simplesmente manca, mas não tem uma perna; a trama se passa em São Paulo e não no Rio de Janeiro; o artista plástico, aqui nomeado José Torres Campana, ganha mais espaço, e por aí vai. Opções do diretor, conhecido por gostar de filmes que não sejam óbvios e por não gostar de se explicar.
Quer saber? Melhor para nós, público. Pois mesmo indo para o cinema, essa linguagem tão imagética, “Crime delicado” mantém-se como uma obra aberta.
*Texto do programa distribuído durante exibição de “Crime delicado”, no dia 26 de outubro de 2009." (Fonte: hoje tem cinema)
"CRÍTICA - CRIME DELICADO: Ao terminar a sessão de Crime Delicado, novo filme de Beto Brant (O Invasor, Os Matadores), percebemos que o cineasta deu uma guinada na maneira de filmar que lhe era tradicional, mas felizmente não perdeu o dom de chocar. O diretor superou as tramas policias dos filmes anteriores e, depois de colocar Malu Mader de quatro em “O Invasor”, erotiza uma deficiente visual de maneira jamais vista nas telas dos cinemas.
Não, o filme não é sobre devotees, mas envolve uma deficiente em uma história de amor e entrega tão intensa que não se pode deixar o fetiche à parte de todo o enredo.
O filme é protagonizado por Marco Rica na pele do crítico teatral Antônio Martins que tem sua vida transformada após conhecer uma mulher na mesa de um boteco. A priori, tudo parece ser muito normal, mas a mulher não possui uma das pernas e vive como musa inspiradora e prisioneira de um artista plástico de prestígio.
Sem saber da deficiência a princípio, e seduzido pelo universo da deficiente outrora, o crítico se encanta pela sexy Inês, vivida pela estreante Lílian Taulib de forma impactante. Os diálogos alternam a capacitada intelectual de cada um e o crítico logo se apaixona por Inês. Mas ela vive como inspiração do artista plástico famoso pela criação de quadros eróticos, José Torres Campana (Felipe Ehrenberg), tanto que usa seu ateliê como moradia e seu sobrenome para sobreviver artisticamente: Inês Campana.
Toda a obsessão do artista plástico por sua musa inspiradora deficiente incomoda o critico que desenvolve com Inês uma relação curta, intensa e ambígua que a leva acusá-lo de estupro.
A partir de então a estética do filme muda. Passa de triste escurecido para preto e branco. As cenas de tribunais são geniais, tanto na interpretação dos atores quanto na direção firme de Brant. A indecisão e dúvida de Inês ao acusar o estuprador são tão sinceras que mesmo presenciando o ato anteriormente ficamos em dúvida se foi consentido ou não. É tudo realmente muito delicado.
Merece destaque o ator e roteirista Marco Ricca. Com 25 anos de carreira, ele agora tenta alçar outros vôos e como confessou Brant em um debate após a exibição da pré-estréia, no dia 6 de fevereiro, no espaço Unibanco, em São Paulo, o ator foi responsável por suas falas no filme. Começa com grande estilo a carreira de roteirista. Os diálogos conferem a película a densidade necessária do confuso crítico teatral.
Não podemos ignorar o estigma de “cult” do filme. Com intervenções teatrais que completam o enredo e até um mini-monólogo de Felipe Ehrenberg perto do fim, o filme carrega todas as características não comerciais. Triste dizer, mas jamais fará sucesso comercial. É importante que existam cineastas como Beto Brant, que ousam e colocam as artes plásticas, o teatro, a literatura e a poesia em convergência com o cinema. Crime delicado é um filme pra deixar a pipoca de lado e comer com o cérebro.
É importante ressaltar a escalação dos atores nos filmes de Beto Brant. Como ele disse no debate após a exibição, não gosta de fazer testes e sim entrevistas. Essa deveria ser regra geral de todos os diretores. Acertou em cheio com Sabotage e Paulo Micklos em “O Invasor” e agora nos apresenta a beldade Lílian Taulib. A moça tem talento. Como disse um espectador presente ao debate, “sobram pernas” entre aquele sorriso e a cara de psicótica sexy que sabe fazer. Vamos ver se há espaço para uma deficiente no mundo cinematográfico.
Não, o filme não é sobre devotees, mas envolve uma deficiente em uma história de amor e entrega tão intensa que não se pode deixar o fetiche à parte de todo o enredo.
O filme é protagonizado por Marco Rica na pele do crítico teatral Antônio Martins que tem sua vida transformada após conhecer uma mulher na mesa de um boteco. A priori, tudo parece ser muito normal, mas a mulher não possui uma das pernas e vive como musa inspiradora e prisioneira de um artista plástico de prestígio.
Sem saber da deficiência a princípio, e seduzido pelo universo da deficiente outrora, o crítico se encanta pela sexy Inês, vivida pela estreante Lílian Taulib de forma impactante. Os diálogos alternam a capacitada intelectual de cada um e o crítico logo se apaixona por Inês. Mas ela vive como inspiração do artista plástico famoso pela criação de quadros eróticos, José Torres Campana (Felipe Ehrenberg), tanto que usa seu ateliê como moradia e seu sobrenome para sobreviver artisticamente: Inês Campana.
Toda a obsessão do artista plástico por sua musa inspiradora deficiente incomoda o critico que desenvolve com Inês uma relação curta, intensa e ambígua que a leva acusá-lo de estupro.
A partir de então a estética do filme muda. Passa de triste escurecido para preto e branco. As cenas de tribunais são geniais, tanto na interpretação dos atores quanto na direção firme de Brant. A indecisão e dúvida de Inês ao acusar o estuprador são tão sinceras que mesmo presenciando o ato anteriormente ficamos em dúvida se foi consentido ou não. É tudo realmente muito delicado.
Merece destaque o ator e roteirista Marco Ricca. Com 25 anos de carreira, ele agora tenta alçar outros vôos e como confessou Brant em um debate após a exibição da pré-estréia, no dia 6 de fevereiro, no espaço Unibanco, em São Paulo, o ator foi responsável por suas falas no filme. Começa com grande estilo a carreira de roteirista. Os diálogos conferem a película a densidade necessária do confuso crítico teatral.
Não podemos ignorar o estigma de “cult” do filme. Com intervenções teatrais que completam o enredo e até um mini-monólogo de Felipe Ehrenberg perto do fim, o filme carrega todas as características não comerciais. Triste dizer, mas jamais fará sucesso comercial. É importante que existam cineastas como Beto Brant, que ousam e colocam as artes plásticas, o teatro, a literatura e a poesia em convergência com o cinema. Crime delicado é um filme pra deixar a pipoca de lado e comer com o cérebro.
É importante ressaltar a escalação dos atores nos filmes de Beto Brant. Como ele disse no debate após a exibição, não gosta de fazer testes e sim entrevistas. Essa deveria ser regra geral de todos os diretores. Acertou em cheio com Sabotage e Paulo Micklos em “O Invasor” e agora nos apresenta a beldade Lílian Taulib. A moça tem talento. Como disse um espectador presente ao debate, “sobram pernas” entre aquele sorriso e a cara de psicótica sexy que sabe fazer. Vamos ver se há espaço para uma deficiente no mundo cinematográfico.
Diretor: Beto Brant
Gênero: Drama
Duração: 87 min
Distribuidora: Lumiere
Tipo: Longa-metragem"
Gênero: Drama
Duração: 87 min
Distribuidora: Lumiere
Tipo: Longa-metragem"
Ao contrário do livro, as cenas do filme são grotescas e entediantes e não chegam a chocar o espectador, embora pareça que tenha sido essa a intenção do diretor. No livro, é a linguagem de Sérgio Sant'Anna que torna crível o drama de Antônio, mas o filme não pode reproduzi-la.
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