Em 1977, poucos meses antes de morrer, Rosário Fusco, inédito desde 1961, quando publicou Dia do Juízo, declarou, em longa entrevista ao Pasquim, que tinha vários livros prontos e sem editor, incluindo esse a.s.a. — associação dos solitórios anônimos, e um outro ainda inédito, o Vacachuvamor. Para quem nutria pelo romance uma quase veneração (“Romance para mim é gênero danado e, pois, maior, o maior”). Deve ter sido frustrante ver o calhamaço amarelecendo na gaveta.
Menino-prodígio do Modernismo brasileiro — ficou célebre sua relação de moleque desbocado com os já consagrados Andrades, Mário e Oswald —, Fusco caiu em desgraça durante o getulismo, pela sua posição francamente favorável ao ditador. Seus livros, que, se não inauguram uma tendência, pelo menos coroam-na. São uma exceção na voga realista da literatura brasileira.
O primeiro, O Agressor, é de 1939, quando imperava o Regionalismo (aliás, discutível termo que coloca no mesmo saco Graciliano Ramos e Jorge Amado). E ele vinha com uma marca bastante própria, a do que chamava supra-realismo (“algo mais que o real ou o outro lado dele”) para diferenciar de realismo fantástico (“porque o real independe da existência, podendo até, e é o que acontece sempre, precedê-la”)...
Em a.s.a., Fusco leva à exaustão a sua opção estética. Esvaziando a realidade de seu conteúdo, faz desfilar, por cenários vertiginosamente marginais, seus personagens, sob a égide da lógica do absurdo. Não quer agradar, mas evidenciar seu desencanto frente às instituições e aos homens. Para
isso, não abre mão de nenhum recurso que possa provocar o leitor: a sátira, a ironia, o puro deboche.
Luiz Ruffato – escritor." (orelhas do livro)
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