Revistas de consultório médico, além de ótimas fontes de contaminação, pois doentes de toda sorte as manuseiam com asseio zero, também podem conter algumas dicas de leitura. E olha que era uma revista Veja (Urgh!), que alardeava no seu tradicional estilo irônico, mas desta vez positivamente, um lançamento de um livro de um prêmio Nobel de literatura, Yasunari Kawabata. Li, rapidamente, a breve resenha, depois lavei as mãos o quanto pude para não me contaminar. Bem, enfim, sobrevivi. Encomendei o livro e li. Sou fã de contos curtos e a experiência com Kawabata foi gratificante. Embora o suicídio para os ocidentais ainda seja algo ligado à doença psíquica e tachado como ato de fraqueza, não é visto da mesma forma pelos japoneses. E alguns críticos ainda não conseguem desassociar a obra do autor.
E assim reportava a Veja: "o suicida Kawabata, Nobel de Literatura de 1968... Nascido em 1899 e morto em 1972, Kawabata de fato tentou, em sua obra, recuperar tradições japonesas ameaçadas pela influência ocidental do pós-guerra – seu romance Mil Tsurus é todo calcado na cerimônia do chá. O cultivo da tradição, porém, nunca o impediu de flertar com as vanguardas européias, em especial com o surrealismo. Contos da Palma da Mão traz 122 contos curtos (caberiam na palma da mão, daí o título da coletânea), que Kawabata produziu ao longo da carreira, entre um romance e outro – as datas de composição vão de 1923 a 1964. Alguns contos nostálgicos visitam a zona rural onde o autor passou parte da infância, mas também há incursões aos bairros mais boêmios e agitados de Tóquio. A descrição de sonhos ocupa uma parte importante da obra. O protagonista de Neve, um dos últimos contos, isola-se em um quarto de hotel para fantasiar paisagens hibernais. Apesar da brevidade das narrativas, esse é um livro para ser apreciado vagarosamente, com muita atenção para os subentendidos sexuais e as imagens líricas cinzeladas por Kawabata."
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