segunda-feira, 13 de abril de 2020

Contrarresiliente. Zeh Gustavo

O sadô ousado diz que oh! meus caros quintais desta pátria nossa, tenham resiliência com este terreiro puteiro que é este Brasil que agora a roda é plana, e o rodo passa por quem é Pt saudação. Vamos trocar de pai(s)? agora só se for pai de santo para receber alguns tragos: trago a pessoa amada em três dias, ou trago este país de volta até a próxima ereção ops! eleição. 
Mas vamos agora a ágora pronta do menestrel cantaautor Zeh Gustavo, em seu novo petardo sonoro e gi(n)gante e multiculturalista Contrarresiliente (editora Viés). 
E se a pauta daquele jornal que você lia naqueles idos de 80, tornasse vitrola de um vinil redondo e desce pisante-potente poético?
Zeh distorce a linguagem como uma boa guitarra flamenca duelando etnias e ritmos, torcendo o rabo da porca do parafuso que é o fascismo diário deste pequeno povo cheios de braços tentáculos para apagar história e botar a dança medieval de botar fogo em ideias, palcos, universidades.
O autor vai ao (dis)cerne(i)mento da linguagem com misticismo-aglutinações, entorses de sentido, revelando que a interpretação de texto (profética) não é rasa e nem régua.
Zeh enxerga por dentro não só do corpo pulsional da linguagem, como também das relações sociais medidas por compadrio, ladroagem, conveniências pusilânimes do toma-lá-da-cá. (Por Fernando Andrade – crítico de literatura/jornalista)



EXPLICITUDE! 

Recebi pelos correios, recentemente, um livro cuja ficha catalográfica acusa ser de literatura brasileira, de poesia. Penso que cada vez mais o gênero se indefine pela forma (apenas) o que me leva a lê-lo desconfiado de suas (pretensas) intenções. “Contrarresiliente” é (de acordo com indicações da segunda orelha) o quinto livro solo de Zeh Gustavo, multiartista que se divide entre o Rio de Janeiro e Cuiabá. Creio que as experiências de vida, nas quais se incluem todas as artísticas do autor, conduzem sua arte-objeto pelo caminho que transpõe mais do que ideologias que o texto possa traduzir. Posicionamentos políticos que se inferem da escrita são apenas a ponta do iceberg, caminho mais curto para se equivocar quanto ao conteúdo que se veicula pela obra de arte.

O conceito por trás do título gera um estranhamento que vai de encontro (quero dizer que vai contra mesmo) à inércia que se observa na sociedade brasileira no momento atual. A pasmaceira generalizada que paralisa qualquer movimento que se oponha ao terraplanismo vulcânico é tocada de maneira violenta pelo vocabulário do poeta. Suas construções frásicas tornam indigesta a leitura para os que acham que está tudo bem. Não está! Gosto dos experimentos linguísticos, da aplicação dos processos de formação de palavras que salpicam todo o livro criando um colorido especial. Percebo movimentos sintáticos promovidos por uma única palavra que ampliam, ao mesmo tempo em que transformam, verbetes simplistas em movimentos que subvertem com criatividade a norma culta.

Zeh Gustavo parece, em alguns momentos, estar diante de um story-board, de um roteiro minimalista para um filme de animação, de uma HQ à espera de um super-herói para combater o vilão de plantão que se demora no caminho das pedras. A diagramação do livro contribui para essa confusão visual transformada em projeto, pois obra de arte; e que ele chama de poesia. Poemas que deixam transparecer conhecimentos de vanguarda, nos quais hiberna a magia de um Mário Chamie de maneira especial. Destaco, à página 91, o poema XÓPI SENTE? como síntese do que mais me agradou na obra:

"Rito: domingos e dezembros

- a vida é crediária cretina

o lazer está trancado

mas as lojas não fecham

porque tem muita gente

que não pode ficar solta lá fora."


Contrarresiliente, uma resenha

Por Gilberto da Silva

O livro é de poesias, mas bem poderia ser um livro de crônicas. Ou será uma crônica-poesia? Mas poderia ser também um livro reportagem, um retrato escrito poeticamente na desgraça que é ser nas ruas onde não ser igual já é um enorme diferencial. O Zeh Gustavo, nosso contrarresiliente fala (ou melhor escreve, descreve e reescreve) o que o engasgado está por nós.

Vá devagar, o livro tem seu público e tem seu selo antifascista, portanto, não espere que nele impere cápsulas antipedagógicas oprimidas. Aqui a escrita é trans! Transbolzonarizado, transacomodado, transeunte.

O Zeh que já em outras lavras traçou linhas incômodas, em contrarresiliente vai direto ao golpe! Pronto para combater o ar contaminado de imbecilidade ou da boçalidade bosta que impera nos guetos nobres da sociedade pós-boçal com seus hiper chiliques.

A poesia aqui é contracorrente e deveras atinge quem deveras ler. Ler aqui é um ato de contravenção, contradição, contradito, não espere palavras mornas, textos leves como beijos suaves ou músicas para dormir.

Portanto, na contra mão necessária, eu super indico a leitura de contrarresiliente de Zeh Gustavo, editado pela Editora Viés.

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