À luz da história
Foi em janeiro de 1985, na editoria de fotografia do jornal Libération, que
Sebastião Salgado, de volta de sua primeira viagem ao Sahel, veio mostrar os
contatos de suas fotos sobre a seca e a fome que, mais uma vez, dizimavam
aquela região da África.
Imagens em preto e branco de crianças, mulheres e velhos esquálidos a quem
os voluntários dos Médicos sem Fronteiras tentavam levar socorro. Salgado
partira com os “french doctors”, para testemunhar. E, numa época em que as
revistas não compreendiam por que ele não havia fotografado em cores, era para
um jornal que ele se voltava. Tudo isso, simplesmente, para lembrar que a
finalidade primordial do fotógrafo Salgado é informar e, por conseguinte,
publicar suas imagens na imprensa, ainda que, mais tarde, o livro e a exposição
façam suas imagens existirem de outra forma, conferindo-lhes leituras e
amplitudes diversas.
Crianças morrendo de malnutrição foram muitas vezes um dos temas do
fotojornalismo dividido de certa forma entre o espetacular e o testemunhal,
entre a consciência limpa e o documento bruto. E, numa época em que Serge Daney
via “o humanismo desaparecer em prol do humanitário”, era preciso desconfiar do
impacto e do sentido das imagens que chegavam a nós depois de tantas páginas
duplas coloridas, com olhares esgazeados, moscas e barrigas inchadas, litania
ritual no papel couché, banalização do horror e confissão de impotência.
Daquela vez, entretanto, era diferente.
A evidência estava ali: a forma das imagens de Sebastião Salgado derivava
de outra abordagem, que impunha respeito e dignidade. Para além da simples
força plástica, interrogavam nossa maneira afoita de ver, nossa vontade de
engolir os fatos. Sua precisão, e, por que não, beleza, perturbava-nos, pois se
opunha radicalmente aos clichês em voga, forçando-nos a enxergar. Salutares,
portanto. Era evidente que cumpria publicar as imagens de Salgado, a fim de
satisfazer uma necessidade real da informação e da consciência. (p.5, por
Christian Caujolle)
Sebastião Salgado foi o primeiro fotógrafo brasileiro a integrar a coleção
Photo Poche. Nascido em 1944 em
Aimorés, Minas Gerais, estudou economia, mas logo se interessou pela fotografia
e seu potencial expressivo e político. Trabalhadores e crianças em situação de
risco, êxodos e rituais fúnebres são imagens que se tornaram símbolos de seu
modo único de retratar e denunciar os limites da condição humana. Com uma
estética precisa e uma solidariedade incondicional aos sujeitos que registra,
sua produção fez dele um fotógrafo premiado em todo o mundo.
Texto de Christian
Caujolle
64 fotografias em preto e branco
Biografia e bibliografia
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