sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Sebastião Salgado (Photo Poche - série)


À luz da história
Foi em janeiro de 1985, na editoria de fotografia do jornal Libération, que Sebastião Salgado, de volta de sua primeira viagem ao Sahel, veio mostrar os contatos de suas fotos sobre a seca e a fome que, mais uma vez, dizimavam aquela região da África.
Imagens em preto e branco de crianças, mulheres e velhos esquálidos a quem os voluntários dos Médicos sem Fronteiras tentavam levar socorro. Salgado partira com os “french doctors”, para testemunhar. E, numa época em que as revistas não compreendiam por que ele não havia fotografado em cores, era para um jornal que ele se voltava. Tudo isso, simplesmente, para lembrar que a finalidade primordial do fotógrafo Salgado é informar e, por conseguinte, publicar suas imagens na imprensa, ainda que, mais tarde, o livro e a exposição façam suas imagens existirem de outra forma, conferindo-lhes leituras e amplitudes diversas.
Crianças morrendo de malnutrição foram muitas vezes um dos temas do fotojornalismo dividido de certa forma entre o espetacular e o testemunhal, entre a consciência limpa e o documento bruto. E, numa época em que Serge Daney via “o humanismo desaparecer em prol do humanitário”, era preciso desconfiar do impacto e do sentido das imagens que chegavam a nós depois de tantas páginas duplas coloridas, com olhares esgazeados, moscas e barrigas inchadas, litania ritual no papel couché, banalização do horror e confissão de impotência. Daquela vez, entretanto, era diferente.
A evidência estava ali: a forma das imagens de Sebastião Salgado derivava de outra abordagem, que impunha respeito e dignidade. Para além da simples força plástica, interrogavam nossa maneira afoita de ver, nossa vontade de engolir os fatos. Sua precisão, e, por que não, beleza, perturbava-nos, pois se opunha radicalmente aos clichês em voga, forçando-nos a enxergar. Salutares, portanto. Era evidente que cumpria publicar as imagens de Salgado, a fim de satisfazer uma necessidade real da informação e da consciência. (p.5, por Christian Caujolle)
 
Sebastião Salgado foi o primeiro fotógrafo brasileiro a integrar a coleção Photo Poche. Nascido em 1944 em Aimorés, Minas Gerais, estudou economia, mas logo se interessou pela fotografia e seu potencial expressivo e político. Trabalhadores e crianças em situação de risco, êxodos e rituais fúnebres são imagens que se tornaram símbolos de seu modo único de retratar e denunciar os limites da condição humana. Com uma estética precisa e uma solidariedade incondicional aos sujeitos que registra, sua produção fez dele um fotógrafo premiado em todo o mundo.

Texto de Christian Caujolle
64 fotografias em preto e branco
Biografia e bibliografia 






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