segunda-feira, 3 de setembro de 2012

em busca de Klingsor. Jorge Volpi

 
O livro em busca de Klingsor foi escrito pelo mexicano Jorge Volpi e publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2001. No verso da edição brasileira, lê-se o comentário do autor cubano Gabriel Cabrera Infante sobre o romance: (...) "É uma obra exemplar da arte que quero denominar "ciência-fusão". Fusão da ciência com a história, a política e a literatura para dar forma a isto que chamamos de cultura". Palavras muito apropriadas para a obra que, em 1999, recebeu o Prêmio Biblioteca Breve.

O romance se desenvolve em meio a fatos históricos e científicos, baseados em fatos reais, do século XX. O tenente Francis Bacon - consultor científico das forças de ocupação dos Estados Unidos na Alemanha e físico de formação - desembarca na Alemanha no ano de 1946 na gelada cidade de Nuremberg, que estava em ruínas devido aos bombardeios aliados. A cidade sediava as execuções dos líderes nazistas em contraposição a um passado não muito distante, quando Nuremberg sediou os festivais do partido nazista. 

Bacon havia sido enviado à Alemanha para capturar ou ao menos identificar Klingsor, não o personagem da ópera de Wagner, mas o influente cientista do III Reich, que teria comandado o grupo de cientistas encarregado de construir a bomba atômica para a Alemanha nazista, além de toda a produção científica do Reich - incluindo os experimentos que utilizavam judeus como cobaias humanas. A tarefa de Bacon não parece muito complicada, se não fosse o mistério envolvendo a identidade de Klingsor.

O tenente (juntamente com o leitor) precisa, antes de qualquer coisa, descobrir se Klingsor realmente existiu, seguindo pistas difusas e não muito esclarecedoras. Conforme o leitor avança na leitura, percebe que Klingsor é o codinome de um cientista, ou talvez de um grupo de cientistas, que assessorava Hitler diretamente. Seja lá o que for, Klingsor, através da ciência, teve grande poder e influência no mundo nazista.

Talvez Klingsor tenha realmente sido um cientista importante, que perambulava entre as grandes personalidades da ciência daquela época, como Einstein e von Neumann. Poderia até mesmo ser um deles, talvez Werner Heisenberg - como acreditava o matemático Gustav Links e narrador do romance - cuja posição ambígua em relação ao nazismo é discutida até hoje.

Em seu romance, Volpi envolve grandes cientistas do século XX na busca do intrigante Klingsor e mostra a rede interminável de ações e reações da ciência no mundo moderno. O leitor é freqüentemente confrontado com aspectos interessantes do "fazer ciência" e é levado a observar que a verdade científica não é um simples produto de laboratório, impessoal e neutro, mas sim, influenciada pela vontade dos próprios cientistas, resultado de um conflito de verdades. 

A obra de Volpi está voltada para a vida de seus personagens, e isso não ocorre por acaso. Explorando a vida das personagens, sobretudo a dos cientistas, ele mostra que as relações humanas entre si e com o seu ambiente têm um papel determinante nos resultados da ciência. 

Einstein está entre os físicos geniais do século XX que formam a teia de atores do tumultuado mundo científico da obra de Volpi e, apesar de não ser o personagem principal, tem um papel importante nas discussões que afloram em alguns capítulos do livro sobre a ciência, os cientistas e as conseqüências de suas ações. 

Assim como outros grandes cientistas judeus perseguidos pelos nazistas, Einstein foi alvo de uma campanha contra a "ciência judia". É possível que, em parte, a Alemanha não tenha conseguido desenvolver uma bomba atômica devido a esta campanha. Em 1945 explodiram as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, e Einstein foi culpado por alguns por ter descoberto a relação entre massa e energia que, na opinião do físico e escritor Stephen Hawking, seria o mesmo que culpar Newton pelas quedas de aviões por ter descoberto a gravidade. A Alemanha nazista expulsara muitos cérebros importantes de seu território e, em 1932, quando foi informado que os nazistas haviam subido ao poder, Einstein renunciou à cidadania alemã e foi para o Institute for Advanced Study, em Princeton, nos EUA.

Volpi trata dos bastidores e não somente dos resultados da ciência, que ele mostra que estão além das bancadas dos laboratórios. Esse tipo de abordagem é importante porque permite uma interpretação mais crítica do desenvolvimento científico e tecnológico.
 
 

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