O livro
em busca de Klingsor foi escrito pelo mexicano Jorge Volpi
e publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2001. No verso
da edição brasileira, lê-se o comentário
do autor cubano Gabriel Cabrera Infante sobre o romance: (...) "É
uma obra exemplar da arte que quero denominar "ciência-fusão".
Fusão da ciência com a história, a política
e a literatura para dar forma a isto que chamamos de cultura".
Palavras muito apropriadas para a obra que, em 1999, recebeu o Prêmio
Biblioteca Breve.
O romance
se desenvolve em meio a fatos históricos e científicos,
baseados em fatos reais, do século XX. O tenente Francis
Bacon - consultor científico das forças de ocupação
dos Estados Unidos na Alemanha e físico de formação
- desembarca na Alemanha no ano de 1946 na gelada cidade de Nuremberg,
que estava em ruínas devido aos bombardeios aliados. A cidade
sediava as execuções dos líderes nazistas em
contraposição a um passado não muito distante,
quando Nuremberg sediou os festivais do partido nazista.
Bacon
havia sido enviado à Alemanha para capturar ou ao menos identificar
Klingsor, não o personagem da ópera de Wagner, mas
o influente cientista do III Reich, que teria comandado o grupo
de cientistas encarregado de construir a bomba atômica para
a Alemanha nazista, além de toda a produção
científica do Reich - incluindo os experimentos que utilizavam
judeus como cobaias humanas. A tarefa de Bacon não parece
muito complicada, se não fosse o mistério envolvendo
a identidade de Klingsor.
O tenente
(juntamente com o leitor) precisa, antes de qualquer coisa, descobrir
se Klingsor realmente existiu, seguindo pistas difusas e não
muito esclarecedoras. Conforme o leitor avança na leitura,
percebe que Klingsor é o codinome de um cientista, ou talvez
de um grupo de cientistas, que assessorava Hitler diretamente. Seja
lá o que for, Klingsor, através da ciência,
teve grande poder e influência no mundo nazista.
Talvez
Klingsor tenha realmente sido um cientista importante, que perambulava
entre as grandes personalidades da ciência daquela época,
como Einstein e von Neumann. Poderia até mesmo ser um deles,
talvez Werner Heisenberg - como acreditava o matemático Gustav
Links e narrador do romance - cuja posição ambígua
em relação ao nazismo é discutida até
hoje.
Em
seu romance, Volpi envolve grandes cientistas do século XX
na busca do intrigante Klingsor e mostra a rede interminável
de ações e reações da ciência
no mundo moderno. O leitor é freqüentemente confrontado
com aspectos interessantes do "fazer ciência" e
é levado a observar que a verdade científica não
é um simples produto de laboratório, impessoal e neutro,
mas sim, influenciada pela vontade dos próprios cientistas,
resultado de um conflito de verdades.
A obra
de Volpi está voltada para a vida de seus personagens, e
isso não ocorre por acaso. Explorando a vida das personagens,
sobretudo a dos cientistas, ele mostra que as relações
humanas entre si e com o seu ambiente têm um papel determinante
nos resultados da ciência.
Einstein
está entre os físicos geniais do século XX
que formam a teia de atores do tumultuado mundo científico
da obra de Volpi e, apesar de não ser o personagem principal,
tem um papel importante nas discussões que afloram em alguns
capítulos do livro sobre a ciência, os cientistas e
as conseqüências de suas ações.
Assim
como outros grandes cientistas judeus perseguidos pelos nazistas,
Einstein foi alvo de uma campanha contra a "ciência judia".
É possível que, em parte, a Alemanha não tenha
conseguido desenvolver uma bomba atômica devido a esta campanha.
Em 1945 explodiram as bombas sobre Hiroshima e Nagasaki, e Einstein
foi culpado por alguns por ter descoberto a relação
entre massa e energia que, na opinião do físico e
escritor Stephen Hawking, seria o mesmo que culpar Newton pelas
quedas de aviões por ter descoberto a gravidade. A Alemanha
nazista expulsara muitos cérebros importantes de seu território
e, em 1932, quando foi informado que os nazistas haviam subido ao
poder, Einstein renunciou à cidadania alemã e foi
para o Institute for Advanced Study, em Princeton, nos EUA.
Volpi
trata dos bastidores e não somente dos resultados da ciência,
que ele mostra que estão além das bancadas dos laboratórios.
Esse tipo de abordagem é importante porque permite uma interpretação
mais crítica do desenvolvimento científico e tecnológico.
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