sábado, 30 de junho de 2012

A Ninfomania - D.T. Bienville


Publicado em Veneza em 1786, portanto antes da Revolução Francesa, A Ninfomania ou o Furor Uterino, que se embeleza com título de Tratado Áureo, mais do que escrito minuciosamente por um cientista - o Senhor D. T. Bienville, doutor em medicina - parece ser obra de um malicioso libertino. O excesso de descrições fisiológicas e a prudência científica, envolta nos inevitáveis vapeurs, transforma a lição deste Hipócrates do século XVIII em um garboso e agradável tratado de literatura erótica, comparável aos grandes clássicos libertinos de sua época.
Escrito em francês, publicado originalmente em versão italiana, este curioso ‘tratado’ mereceu através destes mais de 200 anos as mais variadas opiniões, teses e estudos. Sua abrangência e ocultas intenções confundiram os seus contemporâneos e o projetaram na história, estabelecendo um documento fundamental de época. Uma época em que um tratado científico/sociológico, uma vez colocado no papel e publicado, não-raro  -  e este é um caso eloqüente -, acabava passando por boa literatura. (contra-capa) 
"DA NINFOMANIA OU DO FUROR UTERINO EM GERAL
Por Ninfomania entende-se um movimento desordenado das fibras nas partes orgânicas da mulher. Essa doença é diferente de todas as outras, na medida em que as outras atacam furiosamente e apontam quase sempre para o mesmo fato, através de sintomas evidentes, toda a sua malignidade; ao passo que esta, ao contrário, esconde-se quase sempre sob o extrínseco enganador de uma aparente calma, tendo, além disso, muitas vezes um caráter perigoso, do qual ainda não foram descobertos nem os avanços nem os princípios. Por vezes, a paciente afetada por ela encontra-se à beira do precipício sem compreender o perigo. É uma serpente que, insensivelmente, sibila no coração. Feliz da paciente se, antes de ser ferida mortalmente, encontra ainda assim vigor suficiente para afastar de si o inimigo que tenta destruí-la!
Essa doença ataca por vezes as mocinhas solteiras, cujo coração, prematuro para o amor, manifestou-se em favor de certos jovens por quem se apaixonaram perdidamente e que, para conquistar, encontraram obstáculos insuperáveis.
Vêem-se ainda algumas mocinhas desencaminhadas, que por um longo espaço de tempo têm levado uma vida voluptuosa, atacadas desavisadamente por esse distúrbio; e isso acontece quando um retiro forçado as mantém distantes das oportunidades que favorecem sua real e fatal inclinação.
Não vamos tampouco eximir as casadas, principalmente aquelas que se encontram unidas com homens de um temperamento frio e frágil que exige sobriedade nos prazeres, ou com outros pouco sensíveis e pouco inclinados a tais prazeres.
Por fim, estão freqüentemente expostas a ela as jovens viúvas, especialmente aquelas a quem a morte privou de um marido vigoroso, com cujo comércio, através de atos vividamente repetidos, habituaram-se ao prazer; cuja grata memória desperta nelas tais desejos que, inconscientemente, causam inquietações, agitações e enfim movimentos involuntários, mas que em pouco tempo reduzem o espírito ao mais aborrecido estado. Todas, em suma, após serem atingidas pelo distúrbio, ocupam-se perpetuamente, com igual força e vivacidade, de objetos capazes de acender em suas paixões a chama infernal do prazer lúbrico... " (p.20/21)

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