segunda-feira, 28 de junho de 2010

O Livro da Dança. Inês Bogéa


O que dizer de um bom livro? Sim. Didático e muito divertido também. Acho sempre interessante revelar como os livros nos chegam às mãos. Há quase sempre algo curioso. Além disso, às vezes, parece envolto em mistério, mas que, independentemente da constatação, eles sempre nos enchem de alegria. Meu professor de música (eu estudo clarineta) leciona educação artística e estava com o livro para explicar o significado de “ribalta” (eu tocava a música “Luzes da Ribalta” de Charles Chaplin): “luzes que iluminam o palco de um teatro” (ele dissera). Folheado o livro, as fotografias chamaram-me à atenção e, pronto, fiquei curioso. Quer ler? Leva. Enfim, com o livro emprestado, li com prazer. Enriquecedor, numa leitura digestiva, fluídica, bem do tipo “não consegui largar, enquanto não terminei”. Em forma de autobiografia, a autora, uma bailarina profissional, nos leva a uma divertida viagem no tempo para conhecer sua trajetória de vida e um pouco da história da Dança. Desde a sua tenra idade, ainda na ginástica olímpica escolar, com sua vontade de voar, fazendo estrelas, começa contando que “sua história de bailarina começa de ponta-cabeça”. Depois, entre cambalhotas e truques, mas sempre sob rígida disciplina, participou de várias competições. Experimentou a capoeira até conhecer o Balé Clássico e o Moderno. Formou-se bailarina e professora pela Royal Academy of Dance. Seguindo a linha paradidática, este Livro da Dança nos dá um apanhado geral da Arte da Dança, o popular e o erudito, a dança clássica, formal, rígida e a dança moderna, com mais liberdade. Traz um pouco das grandes estrelas da dança mundial, bailarinas e bailarinos, coreógrafos, peças e um pouco de tudo que possa enriquecer o leitor com a cultura da Arte da Dança. Professora e  hoje crítica de dança, Inês Bogéa fez de “O Livro da Dança” um dos volumes mais interessantes da coleção profissões, senão o melhor e, claro, despertando a curiosidade para conhecermos “O Livro da Música”, “O Livro do Guitarrista” e outros. Faço aqui apenas uma ressalva, criticando o uso de páginas coloridas que, em algumas páginas, tornou difícil a leitura, fruto do contraste das páginas com a cor das letras. De resto, um livro recomendável.  Vão, a seguir, algumas passagens do livro:
“O BRASIL QUE DANÇA
Como eu contei antes, de um jeito ou de outro todo mundo dança e sempre dançou. Os índios do Brasil, por exemplo, há séculos têm seus rituais dançados, e os escravos africanos, que começaram a vir para cá no século XVI, dançavam ao som dos atabaques. Alguma coisa das danças deles se preserva até hoje no Carnaval, misturada com outras danças populares — e também com as que cada um inventa na hora. Todo mundo dança e sempre dançou, e não é preciso um coreógrafo para isso. Mas neste livro estou contando histórias de dança cênica — uma forma de arte, não um ritual, nem só um divertimento. Vamos ver agora, quando essa arte chegou ao nosso país.
O balé veio para o Brasil com a corte de D. João VI, no início do século XIX. Alguns dos grandes espetáculos que então se dançavam na Europa foram vistos por aqui. Bem mais tarde, já em 1909, os Balés Russos de Diaghilev passaram pelo Rio de Janeiro, apresentando-se no recém-fundado Theatro Municipal. Nijinski causou grande sensação. Nos anos seguintes, o Municipal continuou a receber convidados, entre eles uma bailarina russa maravilhosa, Maria Olenewa, e a companhia de Anna Pavlova.
Olenewa resolveu morar no Brasil e, passados alguns anos, em 1927, foi convidada a criar a primeira escola de dança numa das salas do Theatro Municipal do Rio. Nove anos depois, nascia o Corpo de Baile do Theatro Municipal, chefiado por ela. Outras estrelas internacionais farão parte da dança brasileira, como Tatiana Leskova, Nina Verchinína e Eugênia Fedorova, que vieram para cá nas décadas de 30, 40 e 50.”
“Andei por vários caminhos, que começaram de ponta-cabeça e seguiram na ponta dos pés. Do sonho das pontas ficou a lembrança de um mundo todo branco e surreal. Da ginástica, da capoeira e das aulas de balé, o meu jeito de dançar. Tudo contou, depois: dança clássica, dança moderna, dança contemporânea, dança brasileira. De todas as maneiras eu dancei, e fui aprendendo que ser bailarina é muito divertido — e muito duro.
A carreira é curta, como a de jogador de futebol. Não existe idade certa para parar, mas chega uma hora em que se tem de escolher outro caminho. Pode ser professora de balé, ensaiadora, coreógrafa, cenógrafa, crítica de dança, ou seguir qualquer outra profissão ligada à dança; ou então começar algo novo.
De minha parte, as coisas aconteceram meio por acaso. Escrevi sobre um balé que tinha visto. Um amigo jornalista leu o texto e o levou para o seu editor. Pronto: foi a primeira matéria minha publicada no jornal. Não parei nunca mais.
Hoje ando por este caminho da escrita, não mais do corpo no ar, mas da mão no papel. Com o mesmo fascínio que a dança, a escrita me pegou. Como nos outros tempos, em que eu ficava praticando o dia todo, nas árvores, na rua e em qualquer lugar, agora invento e ensaio na cabeça.
Mesmo a escrita é parte da dança. Se estou assistindo a um espetáculo e vou escrever para o jornal, começo dançando junto, na cadeira. Depois danço com as palavras, até elas formarem a coreografia. Às vezes, quando está difícil, faço o movimento de novo, e logo vem uma idéia. Para escrever, assim como para dançar, a gente precisa ter ritmo. Precisa ter forma. Acima de tudo, precisa escutar o mesmo silêncio de dentro, que é onde tudo começa.”
Leia também: "O Livro da Música"; "O Livro do Guitarrista"; e outros pertencentes à mesma coleção profissões da Companhia das Letrinhas.

3 comentários:

  1. Muito legal sua resenha, linkamos para ela aqui:
    http://www.blogdacompanhia.com.br/2010/06/links-da-semana/ :)

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  2. ESTOU LENDO NA ESCOLA
    ESTOU GOSTANDO MUITO
    ESTOU NA PAG.46
    MUITO LEGAL PRINCIPALMENTE PORQUE EU DANÇO BELLET
    NA MINHA COMUNIDADE......

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