quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Desonrados e outros contos. Arlindo Gonçalves


Um retrato, sem maquiagem, do submundo, ou melhor dizendo, da realidade de uma grande cidade. Contrastando o cruel cotidiano da grande maioria, dos sem teto, dos desempregados, dos alcoólatras, dos excluídos, que apenas sobrevivem; numa oposição aos poucos que ganham muito e, realmente, vivem.


Poderia até dizer que Arlindo Gonçalves elabora um trabalho comovente, necessário e útil, exibindo uma atmosfera paulistana que passa despercebida, mas que está ali para todos verem, e que, no entanto, muitos (comodamente) evitam olhar. Fazendo um paralelo, Arlindo produz, literariamente, algo com São Paulo, como pano de fundo; ao que João Antônio faz com o Rio de Janeiro.


"Desonrados", como muito bem apresentado pelo escritor Nelson de Oliveira, em seu prefácio, pode ser tanto "uma coletânea de contos" ou "uma novela multifacetada". Podendo ser lida de "maneira independente ou dez capítulos de algo mais amplo". Em seu segundo livro, Arlindo Gonçalves, um dos grandes colaboradores do site "Leia Livro", mostra sua maturidade e seu incrível domínio da narrativa, ao compor uma obra densa, instigante e questionadora.


Nelson de Oliveira traça semelhanças entre "Desonrados" e "Memórias do subsolo", de Dostoievski. Eu acrescentaria outra peculiaridade, entre o excelente conto "Manhã nova" com a realidade exposta por Thomas De Quincey, em algumas passagens de "Confissões de um Comedor de Ópio", de 1821. Quase duzentos anos separam as obras e surpreendentemente nos deparamos com as mesmas seqüelas do implacável "capitalismo selvagem".


"Desonrados", de Arlindo Gonçalves, deve ser lido, não só como mais uma obra que nos induz à reflexão para rever valores, mas também para se conhecer o talento de um grande escritor. Arlindo é mais um expoente que se sobressai na formação de uma nova e crescente geração de escritores brasileiros.


"Desonrados" foi publicado em 2004 pela Editora Marco Zero, um selo editorial da AMPUB Comercial Ltda.


Resenha publicada no site www.leialivro.sp.gov.br.

Um comentário:

  1. Muito interessante, é sempre bom ver o que não vemos ou o que está ali por tanto tempo que passa despercebido como tem escrito no texto ;]

    xoxo

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