O montanhista Marcelo Krings, colaborador do Webventure, escreveu abaixo uma resenha do livro “A incrível Viagem de Shackleton”, de Alfred Lansing (Editora José Olímpyo). Uma resenha que merece destaque.
De origem Irlandesa, Shackleton foi um homem como poucos, daqueles que em qualquer situação difícil, se gostaria de ter ao lado. Obstinado, mas não a qualquer preço, Shackleton organizou e comandou a Expedição Imperial Transantártica, que se fez ao mar em agosto de 1914, e a comandou no sucesso, no imprevisto e nas incontáveis dificuldades até o seu derradeiro fim em agosto de 1916.
O objetivo da expedição era ambicioso, porém factível. O pólo sul já tinha sido alcançado por Admunsen e Scott em 1911 e um novo desafio aparecia no horizonte das grandes explorações polares: a travessia completa do Continente Antártico desde o setor africano até o setor australiano, passando pelo pólo sul geográfico. Milhares de quilômetros de glaciares, montanhas, temperaturas extremamente baixas e ventos fortíssimos, tudo isso para ser superado por um punhado de homens em trenós, puxados por cachorros. Este era o desafio de Shackleton!
Infelizmente este objetivo nunca chegou a ser alcançado. Próximo da costa da Antártica, seu navio o Endurance, foi aprisionado por uma banquisa de gelo à qual ficou preso durante mais de 10 meses. Em novembro de 1915, a estrutura do Endurance não resistiu a tremenda pressão dos blocos de gelo circundantes e finalmente afundou.
Ilhados em uma plataforma flutuante de gelo, Shackleton e sua tripulação de 27 homens viajaram de trenó em direção norte até estabeleceram um acampamento sobre uma banquisa em janeiro de 1916. Ao sabor das marés, o bloco de gelo se deslocava vagarosamente no sentido norte. Ali a tripulação do Endurance sobreviveu de seus suprimentos e caçando animais antárticos por um longo período. Muitos acertos foram feitos para preparar as duas pequenas embarcações remanescentes, pois a tripulação sabia que a qualquer momento a banquisa, em sua viagem ao norte, poderia se despedaçar, não oferecendo mais abrigo a eles.
Aos poucos, o banco de gelo foi se reduzindo e em abril de 1916 não havia outra alternativa que se lançar ao mar. Os cálculos de navegação indicavam a proximidade de terra, a Ilha Elefante, a poucos dias de navegação. Assim por quase duas semanas, as pequenas embarcações foram sacudidas pelo tempestuoso mar no Estreito de Bransfield, até finalmente chegarem a Ilha Elefante.
Aportaram no que se chama hoje a Praia do Náufragos, porém era sabido que nesta ilha não havia, como não há hoje, pessoas vivendo que pudessem ajudar os náufragos do Endurance. Ao menos era terra firme e ali poderiam recompor suas forças, caçar e se abrigar para prosseguir na tentativa de atingir algum ponto povoado do hemisfério sul. Em poucos dias uma expedição composta por Shackleton e mais dois homens se fez novamente ao mar, na sua pequena baleeira a vela para tentar seguir rumo as ilhas Georgia do Sul, de onde tinham partido dois anos atrás.
A viagem durou pouco mais de 6 semanas, praticamente todo o trajeto foi feito sobre um tempo terrível, os três navegantes dormiam e acordavam gelados e molhados, passando por todo tipo de dificuldade até finalmente atingir a Geórgia do Sul em maio de 1916. Uma vez na ilha sabiam que estavam do lado errado, mas não havia como retornar para o mar, seu barco acabara de perder o leme. Não havia outra saída senão empreender uma inédita travessia de uma ilha sub antártica, por entre montanhas e geleiras até o porto de Grytviken.
Os habitantes do porto os tinham como mortos ou desaparecidos e foi com espanto que receberam aqueles homens barbados, sujos, desnutridos e que não trocavam suas roupas há muitos meses. Em pouco tempo várias tentativas de resgate foram organizadas para retirar os náufragos do Endurance que ainda permaneciam na Ilha Elefante. Finalmente no dia 30 de agosto um rebocador chileno, com Shackleton a bordo, conseguiu se aproximar da ilha e retirar todos os homens em segurança.
Nesta incrível e verdadeira aventura, embora o objetivo inicial não tenha sido atingido, um outro, surgido através das circunstâncias impostas pela natureza selvagem, foi alcançado. Todos os homens da tripulação foram resgatados e retornaram para seus lares sãos e salvos. Muito desta façanha se deve a liderança de Shackleton e ao fascínio que seus homens tinham por ele, confiando sua sobrevivência ao discernimento, bom julgamento e a experiência de um verdadeiro líder.
Marcelo Krings (copyright), colaborador do Webventure, é montanhista desde 1989. Foi presidente do Clube Alpino Paulista nos anos de 1998, 1999 e início de 2000. Participou de várias expedições para a cordilheira dos Andes, entre elas de 4 expedições científicas para a Antártica. Atualmente é conselheiro do CAP e sócio da Uggi Educação Ambiental e Australis Turismo.
Retirado do site Webventure.
http://www.webventure.com.br/home/conteudo/noticias/index/id/3422
De origem Irlandesa, Shackleton foi um homem como poucos, daqueles que em qualquer situação difícil, se gostaria de ter ao lado. Obstinado, mas não a qualquer preço, Shackleton organizou e comandou a Expedição Imperial Transantártica, que se fez ao mar em agosto de 1914, e a comandou no sucesso, no imprevisto e nas incontáveis dificuldades até o seu derradeiro fim em agosto de 1916.
O objetivo da expedição era ambicioso, porém factível. O pólo sul já tinha sido alcançado por Admunsen e Scott em 1911 e um novo desafio aparecia no horizonte das grandes explorações polares: a travessia completa do Continente Antártico desde o setor africano até o setor australiano, passando pelo pólo sul geográfico. Milhares de quilômetros de glaciares, montanhas, temperaturas extremamente baixas e ventos fortíssimos, tudo isso para ser superado por um punhado de homens em trenós, puxados por cachorros. Este era o desafio de Shackleton!
Infelizmente este objetivo nunca chegou a ser alcançado. Próximo da costa da Antártica, seu navio o Endurance, foi aprisionado por uma banquisa de gelo à qual ficou preso durante mais de 10 meses. Em novembro de 1915, a estrutura do Endurance não resistiu a tremenda pressão dos blocos de gelo circundantes e finalmente afundou.
Ilhados em uma plataforma flutuante de gelo, Shackleton e sua tripulação de 27 homens viajaram de trenó em direção norte até estabeleceram um acampamento sobre uma banquisa em janeiro de 1916. Ao sabor das marés, o bloco de gelo se deslocava vagarosamente no sentido norte. Ali a tripulação do Endurance sobreviveu de seus suprimentos e caçando animais antárticos por um longo período. Muitos acertos foram feitos para preparar as duas pequenas embarcações remanescentes, pois a tripulação sabia que a qualquer momento a banquisa, em sua viagem ao norte, poderia se despedaçar, não oferecendo mais abrigo a eles.
Aos poucos, o banco de gelo foi se reduzindo e em abril de 1916 não havia outra alternativa que se lançar ao mar. Os cálculos de navegação indicavam a proximidade de terra, a Ilha Elefante, a poucos dias de navegação. Assim por quase duas semanas, as pequenas embarcações foram sacudidas pelo tempestuoso mar no Estreito de Bransfield, até finalmente chegarem a Ilha Elefante.
Aportaram no que se chama hoje a Praia do Náufragos, porém era sabido que nesta ilha não havia, como não há hoje, pessoas vivendo que pudessem ajudar os náufragos do Endurance. Ao menos era terra firme e ali poderiam recompor suas forças, caçar e se abrigar para prosseguir na tentativa de atingir algum ponto povoado do hemisfério sul. Em poucos dias uma expedição composta por Shackleton e mais dois homens se fez novamente ao mar, na sua pequena baleeira a vela para tentar seguir rumo as ilhas Georgia do Sul, de onde tinham partido dois anos atrás.
A viagem durou pouco mais de 6 semanas, praticamente todo o trajeto foi feito sobre um tempo terrível, os três navegantes dormiam e acordavam gelados e molhados, passando por todo tipo de dificuldade até finalmente atingir a Geórgia do Sul em maio de 1916. Uma vez na ilha sabiam que estavam do lado errado, mas não havia como retornar para o mar, seu barco acabara de perder o leme. Não havia outra saída senão empreender uma inédita travessia de uma ilha sub antártica, por entre montanhas e geleiras até o porto de Grytviken.
Os habitantes do porto os tinham como mortos ou desaparecidos e foi com espanto que receberam aqueles homens barbados, sujos, desnutridos e que não trocavam suas roupas há muitos meses. Em pouco tempo várias tentativas de resgate foram organizadas para retirar os náufragos do Endurance que ainda permaneciam na Ilha Elefante. Finalmente no dia 30 de agosto um rebocador chileno, com Shackleton a bordo, conseguiu se aproximar da ilha e retirar todos os homens em segurança.
Nesta incrível e verdadeira aventura, embora o objetivo inicial não tenha sido atingido, um outro, surgido através das circunstâncias impostas pela natureza selvagem, foi alcançado. Todos os homens da tripulação foram resgatados e retornaram para seus lares sãos e salvos. Muito desta façanha se deve a liderança de Shackleton e ao fascínio que seus homens tinham por ele, confiando sua sobrevivência ao discernimento, bom julgamento e a experiência de um verdadeiro líder.
Marcelo Krings (copyright), colaborador do Webventure, é montanhista desde 1989. Foi presidente do Clube Alpino Paulista nos anos de 1998, 1999 e início de 2000. Participou de várias expedições para a cordilheira dos Andes, entre elas de 4 expedições científicas para a Antártica. Atualmente é conselheiro do CAP e sócio da Uggi Educação Ambiental e Australis Turismo.
Retirado do site Webventure.
http://www.webventure.com.br/home/conteudo/noticias/index/id/3422
Pois é ,perseverar sempre.
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