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sábado, 18 de junho de 2011

A História de O. Pauline Réage

“A história de O” é um romance cercado de mistérios. De autoria incerta (Pauline Réage é um pseudônimo), o livro saiu pela primeira vez em 1954 e até recentemente só era encontrado em edições clandestinas. A atitude corajosa do editor Jean-Jacques Pauvert, que já editara as obras clássicas de Henry Miller e do Marquês de Sade, tornou possível sua divulgação. Ao receber os manuscritos originais diretamente das mãos de Jean Paulham, membro da Academia Francesa e então diretor da publicação literária “Nouveile Revue Française”, Pauvert percebeu que tinha em seu poder “um dos grandes livros reveladores de nossa época” e que nada o faria mudar a decisão de publicá-lo.

Mas a mesma reação não tiveram os juízes e censores da França, que proibiram a distribuição e divulgação da obra logo após a publicação, sob a alegação de que “atentava contra os bons costumes”. Pouco adiantou um intelectual de renome como Jean Paulham ter assinado o prefácio, ou escritores de prestígio como André Gide, Valéry Larbaud e Saint-John Perse terem ostensivamente defendido as qualidades do romance. “A história de O” foi definitivamente proibida. Mesmo assim, sucessivas edições clandestinas continuaram a circular em todo o mundo, o que serviu ainda mais para aumentar sua fama de obra pornográfica e maldita.

Enquanto isso, sensatamente, o autor de “A história de O” permaneceu incógnito. Ainda assim, sob o mesmo pseudônimo de Pauline Réage, publicou outros dois livros: “Retour à Roissy” (uma espécie de continuação de “A história de O”) e “Une Fille Amoureuse”. Hoje, muitos críticos acham que o autor que se esconde sob o nome de Pauline é o próprio Jean Paulham, embora este, enquanto vivo, sempre tenha negado essa possibilidade. Alguns outros, entretanto, acreditam que se trata de um amigo de Paulham, também membro da Academia Francesa, e que não quis revelar seu verdadeiro nome por temer algum tipo de represália. Outros vão além, afirmando que o autor da discutida obra é uma militante feminista, que se utilizou do romance como um artifício para defender suas teses sobre o relacionamento entre homens e mulheres.

Em 1975, no lançamento da versão cinematográfica de “A história de O”, o livro voltou a ser notícia. Agora os tempos eram outros. Uma época de liberalização e permissividade tornava possível a publicação de livros eróticos sem risco de novos confiscos ou punições. A revista “L’Express” chegou a dedicar treze páginas de uma de suas edições ao romance. Além disso, o que correspondeu a uma verdadeira inovação para revistas desse tipo, prontificou-se a publicar a versão integral da obra em capítulos. “L’Express” obteve, ainda, após exaustivas negociações com o editor Jean-Jacques Pauveri, uma autorização para entrevistar o verdadeiro autor do livro, sob a condição de que seu nome jamais fosse revelado. Na longa entrevista que concedeu à jornalista e escritora Régine Desforges, autora de “A bicicleta azul”, Pauline Réage não deu nenhuma indicação de quem era, qual seu sexo, origem ou profissão. Desse modo, a identidade do autor de “A história de O” permanece um grande mistério.

Isso não impediu, entretanto, que o romance se transformasse num grande clássico da literatura erótica moderna, em que, para o escritor Pieyre de Mandiargues, sua heroína é “transfigurada por uma corrente que vem da alma e não do corpo”; segundo o próprio autor, “o amor abre caminho, na igualdade recíproca, para a criação de um universo mental, onde tanto o homem como a mulher podem se sentir inteiramente livres”. Com sua aparente violência e crueldade, tido como “casta”, por François Mauriac, e “de incrível decência”, por Jean Paulham, “A história de O” é uma obra que polemiza e antecipa a difícil convivência dos sexos no conturbado mundo contemporâneo. (p.191/193)

A trilha sonora do filme "Histoire d'O" (1975) ficou a cargo de Pierre Bachelet (mesmo autor do tema do filme "Emmanuelle"). A seguir trailer do filme disponível no You Tube e a versão cantada por Nicole Croisille "Je ne suis que de l'amour" (traduzido para "Eu só posso amar"). Um tema clássico, proporcionalmente ao livro e ao filme.