“A história de O” é um romance cercado de mistérios. De autoria incerta (Pauline Réage é um pseudônimo), o livro saiu pela primeira vez em 1954 e até recentemente só era encontrado em edições clandestinas. A atitude corajosa do editor Jean-Jacques Pauvert, que já editara as obras clássicas de Henry Miller e do Marquês de Sade, tornou possível sua divulgação. Ao receber os manuscritos originais diretamente das mãos de Jean Paulham, membro da Academia Francesa e então diretor da publicação literária “Nouveile Revue Française”, Pauvert percebeu que tinha em seu poder “um dos grandes livros reveladores de nossa época” e que nada o faria mudar a decisão de publicá-lo.
Mas a mesma reação não tiveram os juízes e censores da França, que proibiram a distribuição e divulgação da obra logo após a publicação, sob a alegação de que “atentava contra os bons costumes”. Pouco adiantou um intelectual de renome como Jean Paulham ter assinado o prefácio, ou escritores de prestígio como André Gide, Valéry Larbaud e Saint-John Perse terem ostensivamente defendido as qualidades do romance. “A história de O” foi definitivamente proibida. Mesmo assim, sucessivas edições clandestinas continuaram a circular em todo o mundo, o que serviu ainda mais para aumentar sua fama de obra pornográfica e maldita.
Enquanto isso, sensatamente, o autor de “A história de O” permaneceu incógnito. Ainda assim, sob o mesmo pseudônimo de Pauline Réage, publicou outros dois livros: “Retour à Roissy” (uma espécie de continuação de “A história de O”) e “Une Fille Amoureuse”. Hoje, muitos críticos acham que o autor que se esconde sob o nome de Pauline é o próprio Jean Paulham, embora este, enquanto vivo, sempre tenha negado essa possibilidade. Alguns outros, entretanto, acreditam que se trata de um amigo de Paulham, também membro da Academia Francesa, e que não quis revelar seu verdadeiro nome por temer algum tipo de represália. Outros vão além, afirmando que o autor da discutida obra é uma militante feminista, que se utilizou do romance como um artifício para defender suas teses sobre o relacionamento entre homens e mulheres.
Em 1975, no lançamento da versão cinematográfica de “A história de O”, o livro voltou a ser notícia. Agora os tempos eram outros. Uma época de liberalização e permissividade tornava possível a publicação de livros eróticos sem risco de novos confiscos ou punições. A revista “L’Express” chegou a dedicar treze páginas de uma de suas edições ao romance. Além disso, o que correspondeu a uma verdadeira inovação para revistas desse tipo, prontificou-se a publicar a versão integral da obra em capítulos. “L’Express” obteve, ainda, após exaustivas negociações com o editor Jean-Jacques Pauveri, uma autorização para entrevistar o verdadeiro autor do livro, sob a condição de que seu nome jamais fosse revelado. Na longa entrevista que concedeu à jornalista e escritora Régine Desforges, autora de “A bicicleta azul”, Pauline Réage não deu nenhuma indicação de quem era, qual seu sexo, origem ou profissão. Desse modo, a identidade do autor de “A história de O” permanece um grande mistério.
Isso não impediu, entretanto, que o romance se transformasse num grande clássico da literatura erótica moderna, em que, para o escritor Pieyre de Mandiargues, sua heroína é “transfigurada por uma corrente que vem da alma e não do corpo”; segundo o próprio autor, “o amor abre caminho, na igualdade recíproca, para a criação de um universo mental, onde tanto o homem como a mulher podem se sentir inteiramente livres”. Com sua aparente violência e crueldade, tido como “casta”, por François Mauriac, e “de incrível decência”, por Jean Paulham, “A história de O” é uma obra que polemiza e antecipa a difícil convivência dos sexos no conturbado mundo contemporâneo. (p.191/193)
A trilha sonora do filme "Histoire d'O" (1975) ficou a cargo de Pierre Bachelet (mesmo autor do tema do filme "Emmanuelle"). A seguir trailer do filme disponível no You Tube e a versão cantada por Nicole Croisille "Je ne suis que de l'amour" (traduzido para "Eu só posso amar"). Um tema clássico, proporcionalmente ao livro e ao filme.
Comecei a ler esse livro faz dois dias, ainda estou na metade, mas o que mais me impreossiona é a maestria da narração. Isso prova que um bom escritor, independente do assunto, consegue fazer de qualquer coisa algo perfeito, basta saber trabalhar as palavras. Afinal, como disse, certa vez, um escritor cujo nome não me lembro, o que importa é a maneira com que se fala e não o que se fala.
ResponderExcluirGostei do blog!
Anne Cécile Desclos é o nome da autora, Pauline Réage é o pseudónimo com que assinou a obra.
ResponderExcluirVerifique em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pauline_R%C3%A9age
Muito obrigado por sua contribuição, Eros Reinard.
Excluir