quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quem é você, Alasca? John Green

Sim (poderia começar com um não, mas por que não começar assim: com um “Sim”, simples direto e positivamente mais otimista?). Às vezes, como agora, corro o risco de esquecer o que me motivou a começar a escrever, é uma ideia sobrepondo-se a outra, mas vou escrever para não a esquecer: “tenho n razões para acreditar no difícil, no remoto, no impossível”. Sim (de novo), sou um otimista inveterado e incorrigível (Thank God!). Acabo de terminar a leitura de “Looking for Alaska”, de John Green (em português, “Quem é você, Alasca?”, tradução que, como de hábito, já conta um pouco da história, herança portuguesa lamentável. Fazer o quê?). Gosto do mistério que envolve a escolha dos livros que leio. É quase como um pedido: “ei, você irá gostar da minha história!" Como se o livro me chamasse à leitura. “Coisa de doido!”, como alguém deixara escapar várias vezes. 

A trama da história de “Looking for Alaska” extrapola e surpreende. O que me atraiu no início era o tradicional romance: “garota bonita e inteligente X garoto estranho e interessante”. Motivado pela leitura de algumas passagens que li no Tumblr e no Facebook. Qualquer semelhança com minha visão de vida não é mera coincidência. Gosto das infinitas possibilidades que o cotidiano nos mostra de forma tão “labiríntica”. Ainda bem que a vida “é bem como ela é”, mesmo! (risos) Não fosse assim, acho que seria um eterno frustrado. Cada pessoa é um universo à parte. Muitas vezes ficamos horrorizados com o que ouvimos, ou com o que as pessoas (diferentes ou não muito diferentes de nós) fazem. Por mais fora do padrão que nossos comportamentos sejam, sempre achamos que os outros é que não são “normais”. 

Voltando ao livro. Além de romance adolescente para adolescente, o livro traz uma temática interessante e incomum: a predileção por “últimas palavras” de pessoas ilustres. Talvez os americanos não sejam nativos do planeta Terra. Mas, surpreendentemente, há inúmeros livros sobre isso. Por que alguém iria se interessar por “últimas palavras”? Por que alguém iria querer se “eternizar” dizendo algo para a posteridade, quando, nos momentos que antecedem a morte, o moribundo quer, sobretudo, sobreviver e não fazer “imagem”. Quem, em sã consciência, acha que os moribundos querem “ficar bem na foto”? Outro dia comentei que deve ser muito legal ter um pai músico que fizesse uma música maravilhosa em homenagem ao filho. Falava de “Jealous Guy”, de John Lennon. E, meu filho, com uma visão de outro ângulo e muito mais sensata que a minha, corrigindo-me: “prefiro um pai vivo a um pai morto”. Bem, e as tais "últimas palavras"? “Como faço para sair deste labirinto?” e “Saio em busca de um grande talvez”. 

Parece uma grande bobagem preocupar-se com as últimas palavras de um moribundo, porque, acaso estivéssemos no lugar dele, iríamos querer unicamente não estar naquela situação. Ao invés de querer gastar o último sopro com palavras, que poderão até sair incompreensíveis ou, obviamente, apressar a morte, mais sensato seria gastá-lo tentando respirar de novo, mais e melhor. As coisas muitas vezes nos fogem do controle e do seu rumo inicial, fogem do plano, quando o imprevisto afeta substancialmente o plano A, e é por isso que devemos analisar tanto as variáveis possíveis e prováveis, possibilitando planos B ou C. Ao tentar entrar no assunto das palavras e do silêncio, “prefiro as palavras mal ditas ao silêncio”. 

Ainda não sei o porquê, mas, ás vezes, chego a ter a impressão de morte, como se tivéssemos morrido, ou assassinássemos um ao outro ao dizermos goodbye, farewell, it’s over. O cérebro pode até interpretar racionalmente, mas, há momentos em que aquele algo mais se sobrepõe e, talvez fruto do coração saudoso e inconformado, dá sinais de sobrevida. Não, este “tipo” de morte não existe. Racionalizar o sentimento é uma das maiores insensatez que uma pessoa pode tentar fazer, mas o fazem com frequência. “Ela me ensinou tudo o que eu sabia sobre lagostins, beijos, vinho tinto e poesia. Ela me mudou” (p. 176) e a forte irresignação “Você não pode me mudar e depois ir embora.” E, muitas vezes, ao nos lembrar de algo, damo-nos conta da fragilidade do tempo, naquele local onde ele não tem o menor sentido, quando a presença fantasmagórica nos vem, como necessidade premente, e somos obrigados a parar e refletir, com os olhos vidrados e a mente a 17 mil quilômetros de distância: “Eu queria tanto me deitar ao lado dela, envolvê-la em meus braços e adormecer. Não queria transar, como nos filmes. Nem mesmo fazer amor. Só queria dormir com ela, no sentido mais inocente da palavra.” 

Por motivos que não interessam agora, há muitos anos não lia um autor estrangeiro. John Green (o mesmo de “A Culpa é das Estrelas”) é muito bom e excepcional em retórica. O livro poderia ser resumido em um terço do seu tamanho, mas se correria o risco de se perderem algumas das suas melhores passagens, que aparecem justamente nas pausas retóricas. Vale a pena se deixar levar por uma boa narrativa e personagens avessos (ou nem tanto) a nós. Adoro esta experiência extra-corpórea que a literatura nos oferece. E que bom que, ao concluirmos a leitura, já não somos mais os mesmos, apesar de estarmos na mesma casa, e talvez sentados na mesma poltrona do início da leitura. Agora que já li o livro, acho que, nas mãos de um bom diretor, até que daria um filme interessante, talvez até “Cult”, com boa trilha sonora e efeitos especiais. Não gosto de ler o livro depois do filme, pois há uma tendência a nos influenciarmos pela visão do diretor, o que não é legal. Eu particularmente não gosto. "Quem é você, Alaska?" é o meu segundo livro lido do ano. Estou devendo, mas o que importa mesmo é não parar. A seguir algumas passagens retiradas do site da escritora e blogueira Isabel Freitas, espero que ela não se importe. 

“Ela tinha namorado. Eu era um palerma. Ela era apaixonante. Eu era irremediavelmente sem graça. Ela era infinitamente fascinante. Então eu voltei para o meu quarto e desabei no beliche de baixo, pensando que, se as pessoas fossem chuva, eu seria garoa e ela, um furacão.”;

"Chega uma hora em que é preciso arrancar o Band-Aid. Dói, mas pelo menos acaba de uma vez e ficamos aliviados.";

 "Tantos de nós teríamos de conviver com coisas feitas e deixadas por fazer naquele dia. Coisas que terminaram mal, coisas que pareceram normais na hora, porque não tínhamos como prever o futuro. Se ao menos conseguíssemos enxergar a infinita cadeia de consequências que resultariam das nossas pequenas decisões. Mas só percebemos tarde demais, quando perceber é inútil.";

“Quando os adultos dizem: “Os adolescentes se acham invencíveis”, com aquele sorriso malicioso e idiota estampado na cara, eles não sabem quanto estão certos. Não devemos perder a esperança, pois jamais seremos irremediavelmente feridos. Pensamos que somos invencíveis porque realmente somos. Não nascemos, nem morremos. Como toda energia, nós simplesmente mudamos de forma, de tamanho e de manifestação. Os adultos se esquecem disso quando envelhecem. Ficam com medo de perder e de fracassar. Mas essa parte que é maior do que a soma das partes não tem começo e não tem fim, e, portanto, não pode falhar” ;

“Mas que diabos significa “instantâneo”? Nada é instantâneo. Arroz instantâneo leva cinco minutos, pudim instantâneo uma hora. Duvido que um instante de dor intensa pareça instantâneo.” ;

“Isso é o medo: Perdi uma coisa importante, não consigo achá-la, preciso dela. É o que a pessoa sentiria se perdesse os óculos, fosse até uma óptica e descobrisse que todos os óculos do mundo tinham se acabado e que, agora, ela teria de se virar sem eles.”;

“Eu queria ser seu último amor. Mas sabia que não era. Sabia e a odiava por isso. Eu a odiava por não se importar comigo. Eu a odiava por ter me deixado naquela noite. E odiava a mim mesmo por tê-la deixado ir embora, porque, se eu tivesse sido suficiente, ela não teria querido ir embora. Simplesmente teria se deitado comigo, conversado e chorado. E eu a teria ouvido e teria beijado as lágrimas que caíam dos seus olhos.”;

“Não sabia se podia confiar nela e já estava cansado de sua imprevisibilidade – fria num dia, meiga no outro; irresistivelmente sedutora num momento e insuportavelmente chata no outro.”;

“Vocês fumam para saborear. Eu fumo para morrer.”;

“Eu queria ser uma dessas pessoas que têm uma sequência a manter, que chamuscavam o chão com sua intensidade. Mas agora pelo menos, eu conhecia pessoas desse tipo, e elas precisavam de mim como um cometa precisa de uma cauda.”;

“O que significa ser uma pessoa? Como passamos a existir e o que será de nós quando deixarmos de existir? Em suma: quais são as regras deste jogo e qual é a melhor maneira de jogá-lo?”;

“Você não pode me mudar e depois ir embora.”;

“Não posso ser uma dessas pessoas que ficam sentadas falando que pretendem fazer isso e aquilo. Eu vou fazer e pronto. Imaginar o futuro é uma espécie de nostalgia.”;

“Eu queria tanto me deitar ao lado dela, envolvê-la em meus braços e adormecer. Não queria transar, como nos filmes. Nem mesmo fazer amor. Só queria dormir com ela, no sentido mais inocente da palavra.”.


Um comentário:

  1. Estava procurando um livro novo para ler e joguei o título no google. Encontrei seu blog e já aumentei a lista! Não pare de escrever, por favor, adorei as suas resenhas!

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