Sim (poderia começar com
um não, mas por que não começar assim: com um “Sim”, simples direto e
positivamente mais otimista?). Às vezes, como agora, corro o risco de esquecer
o que me motivou a começar a escrever, é uma ideia sobrepondo-se a outra, mas
vou escrever para não a esquecer: “tenho n razões para acreditar no difícil, no
remoto, no impossível”. Sim (de novo), sou um otimista inveterado e
incorrigível (Thank God!). Acabo de terminar a leitura de “Looking for Alaska”,
de John Green (em português, “Quem é você, Alasca?”, tradução que, como de
hábito, já conta um pouco da história, herança portuguesa lamentável. Fazer o
quê?). Gosto do mistério que envolve a escolha dos livros que leio. É quase
como um pedido: “ei, você irá gostar da minha história!" Como se o livro
me chamasse à leitura. “Coisa de doido!”, como alguém deixara escapar várias
vezes.
A trama da história de
“Looking for Alaska” extrapola e surpreende. O que me atraiu no início era o
tradicional romance: “garota bonita e inteligente X garoto estranho e
interessante”. Motivado pela leitura de algumas passagens que li no Tumblr e no Facebook.
Qualquer semelhança com minha visão de vida não é mera coincidência. Gosto das
infinitas possibilidades que o cotidiano nos mostra de forma tão “labiríntica”.
Ainda bem que a vida “é bem como ela é”, mesmo! (risos) Não fosse assim, acho
que seria um eterno frustrado. Cada pessoa é um universo à parte. Muitas vezes
ficamos horrorizados com o que ouvimos, ou com o que as pessoas (diferentes ou
não muito diferentes de nós) fazem. Por mais fora do padrão que nossos
comportamentos sejam, sempre achamos que os outros é que não são
“normais”.
Voltando ao livro. Além de
romance adolescente para adolescente, o livro traz uma temática interessante e
incomum: a predileção por “últimas palavras” de pessoas ilustres. Talvez os
americanos não sejam nativos do planeta Terra. Mas, surpreendentemente, há
inúmeros livros sobre isso. Por que alguém iria se interessar por “últimas
palavras”? Por que alguém iria querer se “eternizar” dizendo algo para a
posteridade, quando, nos momentos que antecedem a morte, o moribundo quer,
sobretudo, sobreviver e não fazer “imagem”. Quem, em sã consciência, acha que
os moribundos querem “ficar bem na foto”? Outro dia comentei que deve ser muito
legal ter um pai músico que fizesse uma música maravilhosa em homenagem ao
filho. Falava de “Jealous Guy”, de John Lennon. E, meu filho, com uma visão de
outro ângulo e muito mais sensata que a minha, corrigindo-me: “prefiro um pai
vivo a um pai morto”. Bem, e as tais "últimas palavras"? “Como faço
para sair deste labirinto?” e “Saio em busca de um grande talvez”.
Parece uma grande bobagem
preocupar-se com as últimas palavras de um moribundo, porque, acaso
estivéssemos no lugar dele, iríamos querer unicamente não estar naquela
situação. Ao invés de querer gastar o último sopro com palavras, que poderão
até sair incompreensíveis ou, obviamente, apressar a morte, mais sensato seria
gastá-lo tentando respirar de novo, mais e melhor. As coisas muitas vezes nos
fogem do controle e do seu rumo inicial, fogem do plano, quando o imprevisto
afeta substancialmente o plano A, e é por isso que devemos analisar tanto as
variáveis possíveis e prováveis, possibilitando planos B ou C. Ao tentar entrar
no assunto das palavras e do silêncio, “prefiro as palavras mal ditas ao silêncio”.
Ainda não sei o porquê,
mas, ás vezes, chego a ter a impressão de morte, como se tivéssemos morrido, ou
assassinássemos um ao outro ao dizermos goodbye,
farewell, it’s over. O cérebro pode até interpretar racionalmente, mas, há
momentos em que aquele algo mais se sobrepõe e, talvez fruto do coração saudoso
e inconformado, dá sinais de sobrevida. Não,
este “tipo” de morte não existe. Racionalizar o sentimento é uma das
maiores insensatez que uma pessoa pode tentar fazer, mas o fazem com
frequência. “Ela me ensinou
tudo o que eu sabia sobre lagostins, beijos, vinho tinto e poesia. Ela me
mudou” (p. 176) e a forte
irresignação “Você não pode me mudar e depois ir embora.” E, muitas vezes, ao nos lembrar de
algo, damo-nos conta da fragilidade do tempo, naquele local onde ele não tem o
menor sentido, quando a presença fantasmagórica nos vem, como necessidade
premente, e somos obrigados a parar e refletir, com os olhos vidrados e a mente
a 17 mil quilômetros de distância: “Eu queria tanto me deitar ao lado dela,
envolvê-la em meus braços e adormecer. Não queria transar, como nos filmes. Nem
mesmo fazer amor. Só queria dormir com ela, no sentido mais inocente da
palavra.”
Por motivos que não interessam
agora, há muitos anos não lia um autor estrangeiro. John Green (o mesmo de “A
Culpa é das Estrelas”) é muito bom e excepcional em retórica. O livro poderia
ser resumido em um terço do seu tamanho, mas se correria o risco de se perderem
algumas das suas melhores passagens, que aparecem justamente nas pausas
retóricas. Vale a pena se deixar levar por uma boa narrativa e personagens
avessos (ou nem tanto) a nós. Adoro esta experiência extra-corpórea que a
literatura nos oferece. E que bom que, ao concluirmos a leitura, já não somos
mais os mesmos, apesar de estarmos na mesma casa, e talvez sentados na mesma
poltrona do início da leitura. Agora que já li o livro, acho que, nas mãos de
um bom diretor, até que daria um filme interessante, talvez até “Cult”, com boa
trilha sonora e efeitos especiais. Não gosto de ler o livro depois do filme,
pois há uma tendência a nos influenciarmos pela visão do diretor, o que não é
legal. Eu particularmente não gosto. "Quem é você, Alaska?" é o meu
segundo livro lido do ano. Estou devendo, mas o que importa mesmo é não parar.
A seguir algumas passagens retiradas do site da escritora e blogueira Isabel
Freitas, espero que ela não se importe.
“Ela tinha namorado. Eu
era um palerma. Ela era apaixonante. Eu era irremediavelmente sem graça. Ela
era infinitamente fascinante. Então eu voltei para o meu quarto e desabei no
beliche de baixo, pensando que, se as pessoas fossem chuva, eu seria garoa e
ela, um furacão.”;
"Chega uma hora em
que é preciso arrancar o Band-Aid. Dói, mas pelo menos acaba de uma vez e
ficamos aliviados.";
"Tantos de nós
teríamos de conviver com coisas feitas e deixadas por fazer naquele dia. Coisas
que terminaram mal, coisas que pareceram normais na hora, porque não tínhamos
como prever o futuro. Se ao menos conseguíssemos enxergar a infinita cadeia de
consequências que resultariam das nossas pequenas decisões. Mas só percebemos
tarde demais, quando perceber é inútil.";
“Quando os adultos dizem:
“Os adolescentes se acham invencíveis”, com aquele sorriso malicioso e idiota
estampado na cara, eles não sabem quanto estão certos. Não devemos perder a
esperança, pois jamais seremos irremediavelmente feridos. Pensamos que somos
invencíveis porque realmente somos. Não nascemos, nem morremos. Como toda
energia, nós simplesmente mudamos de forma, de tamanho e de manifestação. Os
adultos se esquecem disso quando envelhecem. Ficam com medo de perder e de
fracassar. Mas essa parte que é maior do que a soma das partes não tem começo e
não tem fim, e, portanto, não pode falhar” ;
“Mas que diabos significa
“instantâneo”? Nada é instantâneo. Arroz instantâneo leva cinco minutos, pudim
instantâneo uma hora. Duvido que um instante de dor intensa pareça
instantâneo.” ;
“Isso é o medo: Perdi uma
coisa importante, não consigo achá-la, preciso dela. É o que a pessoa sentiria
se perdesse os óculos, fosse até uma óptica e descobrisse que todos os óculos
do mundo tinham se acabado e que, agora, ela teria de se virar sem eles.”;
“Eu queria ser seu último
amor. Mas sabia que não era. Sabia e a odiava por isso. Eu a odiava por não se
importar comigo. Eu a odiava por ter me deixado naquela noite. E odiava a mim
mesmo por tê-la deixado ir embora, porque, se eu tivesse sido suficiente, ela
não teria querido ir embora. Simplesmente teria se deitado comigo, conversado e
chorado. E eu a teria ouvido e teria beijado as lágrimas que caíam dos seus
olhos.”;
“Não sabia se podia
confiar nela e já estava cansado de sua imprevisibilidade – fria num dia, meiga
no outro; irresistivelmente sedutora num momento e insuportavelmente chata no
outro.”;
“Vocês fumam para
saborear. Eu fumo para morrer.”;
“Eu queria ser uma dessas
pessoas que têm uma sequência a manter, que chamuscavam o chão com sua
intensidade. Mas agora pelo menos, eu conhecia pessoas desse tipo, e elas
precisavam de mim como um cometa precisa de uma cauda.”;
“O que significa ser uma
pessoa? Como passamos a existir e o que será de nós quando deixarmos de
existir? Em suma: quais são as regras deste jogo e qual é a melhor maneira de
jogá-lo?”;
“Você não pode me mudar e
depois ir embora.”;
“Não posso ser uma dessas
pessoas que ficam sentadas falando que pretendem fazer isso e aquilo. Eu vou fazer
e pronto. Imaginar o futuro é uma espécie de nostalgia.”;
“Eu queria tanto me deitar
ao lado dela, envolvê-la em meus braços e adormecer. Não queria transar, como
nos filmes. Nem mesmo fazer amor. Só queria dormir com ela, no sentido mais
inocente da palavra.”.
Estava procurando um livro novo para ler e joguei o título no google. Encontrei seu blog e já aumentei a lista! Não pare de escrever, por favor, adorei as suas resenhas!
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