Livro que relata envolvimento de FHC com a CIA esgota edição
Quem pagou a conta?, segundo os editores, recebeu “uma ampla
cobertura pela mídia quando foi lançado no exterior”, em 1999. Na obra,
Frances Stonor Saunders narra em detalhes como e por que a CIA, durante a
Guerra Fria, financiou artistas, publicações e intelectuais de centro e
centro-esquerda, num esforço para mantê-los distantes da ideologia
comunista. Cheia de personagens instigantes e memoráveis, entre eles o
ex-presidente brasileiro, “esta é uma das maiores histórias de corrupção
intelectual e artística pelo poder”.
“Não é segredo para ninguém que, com o término da Segunda
Guerra Mundial, a CIA passou a financiar artistas e intelectuais de
direita; o que poucos sabem é que ela também cortejou personalidades de
centro e de esquerda, num esforço para afastar a intelligentsia do
comunismo e aproximá-la do American way of life. No livro, Saunders
detalha como e por que a CIA promoveu congressos culturais, exposições e
concertos, bem como as razões que a levaram a publicar e traduzir nos
Estados Unidos autores alinhados com o governo norte-americano e a
patrocinar a arte abstrata, como tentativa de reduzir o espaço para
qualquer arte com conteúdo social. Além disso, por todo o mundo,
subsidiou jornais críticos do marxismo, do comunismo e de políticas
revolucionárias. Com esta política, foi capaz de angariar o apoio de
alguns dos maiores expoentes do mundo ocidental, a ponto de muitos
passarem a fazer parte de sua folha de pagamentos”.
As publicações Partisan Review, Kenyon Review, New Leader e
Encounter foram algumas das publicações que receberam apoio direto ou
indireto dos cofres da CIA. Entre os intelectuais patrocinados ou
promovidos pela CIA, além de FHC, estavam Irving Kristol, Melvin
Lasky, Isaiah Berlin, Stephen Spender, Sidney Hook, Daniel Bell, Dwight
MacDonald, Robert Lowell e Mary McCarthy, entre outros. Na Europa, havia
um interesse especial na Esquerda Democrática e em ex-esquerdistas,
como Ignacio Silone, Arthur Koestler, Raymond Aron, Michael Josselson e
George Orwell.
O jornalista Sebastião Nery,
em 1999, quando o diário conservador carioca Tribuna da Imprensa ainda
circulava em sua versão impressa, comentou em sua coluna que não seria
possível resumir a obra em tão pouco espaço: “São 550 páginas
documentadas, minuciosa e magistralmente escritas”, afirmou.
Dinheiro para FHC
“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da
Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter
Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se
entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de US$ 145 mil. Nasce o
Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento)”. Esta história,
que reforça as afirmações de Saunders, está contada na página 154 do
livro Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível, da jornalista
francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997,
tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969″ era fevereiro
daquele ano.
Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura militar
havia lançado o AI-5 e elevado ao máximo o estado de terror após o golpe
de 64, “desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados
Unidos”, como afirma a autora. Centenas de novas cassações e suspensões
de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. O
ex-presidente Juscelino Kubitcheck e o ex-governador Carlos Lacerda
tinham sido presos. Enquanto isso, Fernando Henrique recebia da poderosa
e notória Fundação Ford uma primeira parcela para fundar o Cebrap. O
total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo,
por onde passou FHC, era voz corrente que o compromisso final dos
norte-americanos girava em torno de US$ 800 mil a US$ 1 milhão.
Segundo reportagem publicada no diário russo Pravda, um ano
após o lançamento do livro no Brasil, os norte-americanos “não estavam
jogando dinheiro pela janela”.
“Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam
em quem estavam aplicando (os dólares)”. Na época, FHC lançara com o
economista chileno Faletto o livro Dependência e desenvolvimento na
América Latina, em que ambos defendiam a tese de que países em
desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se
dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos”. A
cantilena foi repetida por FHC, em entrevista concedida ao diário
conservador paulistano Folha de S. Paulo, na edição da última
terça-feira, a última de 2013.
Com a cobertura e o dinheiro dos norte-americanos, FHC
tornou-se, segundo o Pravda, “uma ‘personalidade internacional’ e passou
a dar ‘aulas’ e fazer ‘conferências’ em universidades norte-americanas e
européias. Era ‘um homem da Fundação Ford’. E o que era a Fundação
Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos
EUA”.
Principais trechos da pesquisa de Saunders:
1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As
fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram
consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os
financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente
ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens,
sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras
instituições privadas” (pág. 153).
2 – “O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais
conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem
alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no
campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford,
entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de
intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág.
443).
3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou
dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o
ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática
de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a
CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág.
147).
4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter
encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso?
Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era
impressionante” (pág. 123).
5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na
Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na
Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no
Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no
México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil”
(pág. 119).
6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um
programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas
operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade
ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45).
Espionagem e dólares
Não há registros imediatos de que o ex-presidente tenha
negado ou admitido as denúncias constantes nos livros de Sauders e
Leoni. Em julho do ano passado, no entanto, o jornalista Bob Fernandes,
apresentador da TV Gazeta, de São Paulo, publicou artigo no qual repassa
o envolvimento do ex-presidente com os serviços de espionagem dos EUA,
sem que tivesse precisado, posteriormente, negar uma só palavra do que
disse. Segundo Fernandes, “o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz
que ‘nunca soube de espionagem da CIA’ no Brasil. O governo atual cobra
explicações dos Estados Unidos”.
“Vamos aos fatos. Entre março de 1999 e abril de 2004,
publiquei 15 longas e detalhadas reportagens na revista CartaCapital.
Documentos, nomes, endereços, histórias provavam como os Estados Unidos
espionavam o Brasil.Documentos bancários mostravam como, no governo FHC,
a DEA, agência norte-americana de combate ao tráfico de drogas, pagava
operações da Polícia Federal. Chegava inclusive a depositar na conta de
delegados. Porque aquele era um tempo em que a PF não tinha orçamento
para bancar todas operações e a DEA bancava as de maiores dimensão e
urgência”, garante Fernandes.
Ainda segundo o jornalista, o mínimo de “16 serviços
secretos dos EUA operavam no Brasil. Às segundas-feiras, essas agências
realizavam a ‘Reunião da Nação’, na embaixada, em Brasília”.
Bob Fernandes, que foi redator-chefe de CartaCapital,
trabalhou nas revistas IstoÉ (BSB e EUA) eVeja, foi repórter da Folha de
S.Paulo e do Jornal do Brasil, afirma ainda que “tudo isso foi revelado
com riqueza de detalhes: datas, nomes, endereços, documentos, fatos. Em
abril de 2004, com a reportagem de capa, publicamos os nomes daqueles
que, disfarçados de diplomatas, como é habitual, chefiavam CIA, DEA, NSA
e demais agências no Brasil. Vicente Chellotti, diretor da PF, caiu
depois da reportagem de capa Os Porões do Brasil, de 3 de março de 1999.
Isso no governo de FHC, que agora, na sua página no Facerbook, disse
desconhecer ações da CIA no país”.
"Fonte-Correio do Brasil
http://domrocha.tumblr.com/post/75392617626/livro-que-relata-envolvimento-de-fhc-com-a-cia-esgota#.Uwt8ZoWlets
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