Absorção e Intimismo em Volpi - 2008 |
Absorção
Sabe-se que no princípio da década de 1960 assomaram na
obra de Volpi antigos elementos afetivos, fisionômicos que pareceriam ter saído
definitivamente de cena depois da experiência “concreta”, com suas superfícies
tensionadas ao limite, habitadas apenas por formas modulares e seriadas.
Retornavam então singulares planos de fachadas, a eles superpostos retângulos
que evocavam portas e janelas, óculos, bandeirinhas isentas da antiga
frontalidade, doravante se deixando modular pelo ar, mastros e outras tantas
figuras emancipadas de qualquer princípio tectônico, como misteriosas formas
ovóides, arcos gravitando no espaço, fitas tremulantes e estandartes de santos,
alguns deles elementos narrativos que o artista resgatava de sua pintura
“suburbana” dos anos 1930 e 1940.
O fato é que a inserção dessas figuras parecia obedecer a um desígnio lúdico,
contingente; elas assomavam em uma constelação prolixa de elementos flutuantes,
desafivelados da sintaxe construtiva exercitada com zelo na década anterior,
revelando, além disso, algo de uma qualidade orgânica — como se disse, davam a
impressão de respirar. O arcabouço construtivo permanecia lá, intacto (este,
por certo, o “período concreto” aportara de modo decisivo à obra), mas não,
propriamente, uma lógica construtiva, que se pudesse declarar fundada na
premissa de uma ratio, de uma ordem primordial.
Marcam os trabalhos realizados nessa década a recapitulação, o andar em círculo
que pareceria sinalizar crise e auto-repetição em face de uma carreira já então
longeva, festejada e publicamente reconhecida — mas é precisamente essa
recalcitrância feliz o que torna tão interessante a produção de Volpi do
decênio de 1960. (p.19)
Cronologia (parcial) – Por Alda Cordeiro.
Alfredo Volpi nasceu em Luca, Itália, em 1896. Em 1898 sua família emigrou
para o Brasil, fixando-se no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O pai abriu uma
pequena venda de queijos e vinhos, tendo como clientes os operários italianos
da fábrica de chapéus Ramenzoni, no Cambuci. Alfredo estudou na escola primária
italiana do bairro e, ainda criança, começou a trabalhar como entalhador e
encadernador.
Década de 1910
Volpi, aos doze anos de idade, deixou (definitivamente) os
estudos e foi trabalhar na seção de encadernação de uma tipografia em que seus
dois irmãos mais velhos já ganhavam a vida. Era na rua Florêncio de Abreu. Nas
horas vagas, ele rabiscava desenhos nas sobras de papel. Um dia um tipógrafo
ganhou de presente uma caixa de aquarela, e o menino Alfredo a comprou por 500
réis. Aos domingos ele se dedicava
a esse brinquedo: fazia manchas de cores simples, mais aguadas e menos aguadas;
combinava uma cor com outra; misturava as cores e tinha surpresas com os resultados.
Sozinho, foi-se exercitando, e, no fim de dois
anos, deixou a tipografia [revista Visão, 5/5/1967].
Em 1912, começa a trabalhar como pintor-decorador de
residências. Em texto de 1957, Mário Pedrosa descreve o trabalho do aprendiz de
decorador:
Alfredo Volpi foi aprendiz consciencioso, desde o primeiro dia em que
começou a carregar para os mais velhos os potes e baldes com água e cal, os pincéis, as escadas. Aprendeu a misturar as tintas, e
ouvia atentamente a lição do mestre, quando recomendava ora engrossar a
tinta, ora torná-la mais fluida, para o óleo escorrer melhor. Cedo principiou a
lidar com o muro, a preparar o reboco, a caiá-lo. E, realmente, a sua academia
foi a rude, a boa escola do pintor de paredes; em pouco tempo, o jovem Volpi era promovido a “decorador”, título
que durante muito tempo carregou com legítimo orgulho, e que lhe
permitIa contratar, [...] por conta própria, as empreitadas. Nesses meios
autênticos e simples, em que a tradição impera e ainda se respeita a maestria
do bom ofício, os problemas estéticos são resolvidos por si mesmos: cada época
tem seus preceitos decorativos. A sua era, como já dissemos, a do art
nouveau. Os temas não variavam, e tudo dependia de quem fizera a encomenda: se
italiano, já se sabe, a decoração tinha de ser renascentista; mas se era
francês ou brasileiro, tinha de ser Luís XV enquanto [...] os turcos não
dispensavam o “mourisco”. Volpi, bom empreiteiro, contentava a clientela, à
risca.
Ao pintar uma primeira paisagem, Volpi se aventura para além da “pintura de
liso”: [...] foi em 1914, com 18 anos, que viu um quadro seu ser usado como obra decorativa, e
assinada.
É uma paisagem, óleo sobre papelão, 16,5 x 27 centímetros, dada de presente
à sua cunhada Celeste, casada com o irmão mais velho. Celeste, posteriormente,
passaria o quadro a uma sua prima, e dessa Alfredo compraria a peça, por quatro
contos de réis, num ano de que não se lembra mais [O Estado de S. Paulo, 29/6/1980].
Com o auxílio do pintor Orlando Tarquínio, realiza, também em 1918, decoração
mural para o Hospital Militar, em São Paulo. A pintura não foi preservada.
Década de 1920
Em 1925, Volpi apresenta-se na Segunda Exposição Geral de Belas-Artes,
organizada pela Sociedade Paulista de Belas-Artes, no Palácio das Indústrias. É
a primeira mostra de que participa, e nela vende sua primeira obra — o retrato
da irmã à máquina de costura.
Em 1926 assiste à conferência de Filippo Tommaso Marinetti, teórico e poeta do futurismo italiano, em São Paulo. Conhece Benedita da Conceição (Judite), com quem se casa em 1942. Recebe a Medalha de Ouro no Salão de Belas- Artes Muse Italiche, na mostra organizada em São Paulo pela Sociedade Italiana de Cultura, reunindo obras de artistas italianos imigrados.
Em 1926 assiste à conferência de Filippo Tommaso Marinetti, teórico e poeta do futurismo italiano, em São Paulo. Conhece Benedita da Conceição (Judite), com quem se casa em 1942. Recebe a Medalha de Ouro no Salão de Belas- Artes Muse Italiche, na mostra organizada em São Paulo pela Sociedade Italiana de Cultura, reunindo obras de artistas italianos imigrados.
Em 1933 participa, no Rio de Janeiro, da XXXIX Exposição Geral de
Belas-Artes, realizada no Palácio de Belas-Artes, recebendo Medalha de Bronze.
O pintor Ado Malagoli, do Núcleo Bernardeili, apresenta Volpi a Francisco
Rebolo, que exerce como ele a profissão de pintor-decorador de paredes.
Em 1934 participa do 1º Salão Paulista de Belas-Artes e freqüenta as sessões de modelo vivo no Palacete Santa Helena, na praça da Sé, onde já se reuniam Francisco Rebolo, Mário Zanini, Manoel Martins, Humberto Rosa e Fulvio Pennacchi. Aldo Bonadei e Clóvis Graciano se juntariam ao grupo mais tarde. Excursionam pelos subúrbios e interior do Estado para pintar paisagens. A convivência desses artistas no palacete e fora dele, e também suas afinidades de trabalho, levaram o crítico Sérgio Milliet a designá-los “Grupo Santa Helena”.
Realiza, em meados da década, diversas paisagens de Mogi das Cruzes.
Em 1934 participa do 1º Salão Paulista de Belas-Artes e freqüenta as sessões de modelo vivo no Palacete Santa Helena, na praça da Sé, onde já se reuniam Francisco Rebolo, Mário Zanini, Manoel Martins, Humberto Rosa e Fulvio Pennacchi. Aldo Bonadei e Clóvis Graciano se juntariam ao grupo mais tarde. Excursionam pelos subúrbios e interior do Estado para pintar paisagens. A convivência desses artistas no palacete e fora dele, e também suas afinidades de trabalho, levaram o crítico Sérgio Milliet a designá-los “Grupo Santa Helena”.
Realiza, em meados da década, diversas paisagens de Mogi das Cruzes.
Em 1935 Volpi expõe no III Salão Paulista de Belas-Artes, em São Paulo, e
ganha a Medalha de Bronze.
Integra a “Exposição de pequenos quadros”, organizada pela Sociedade
Paulista de Belas- Artes, e participa do IV Salão Paulista de Belas- Artes, em
1936.
Está presente, em 1937, na 1ª Exposição da Família Artística Paulista no
Hotel Esplanada, em São Paulo; o crítico Paulo Mendes de Almeida escreve a
introdução do catálogo. Conhece Bruno Giorgi, que sobre ele afirma: Quando
conheci o Volpi em sua casa do Cambuci, na rua Baker, ele ainda morava com os
pais. Tive um grande choque ao ver aqueles quadros, de rara, e, no
entanto, simples composição. (p. 61/62)
Em 1985 é organizada a exposição “Volpi 89 anos”, na Dan Galeria, em São
Paulo. A Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, apresenta a mostra “Alfredo Volpi:
1960-1985”. O artista participa da exposição “Obras raras”, na Galeria Ralph
Camargo, no Rio de Janeiro, em que é exposta tapeçaria que produzira por
sugestão de Bruno Giorgi. Integra a mostra “Quatro mestres, quatro visões:
Barsotti, lanelli, Tomie, Volpi”, na Simões de Assis Galeria de Arte, em
Curitiba. Participa da coletiva “Sete décadas da presença italiana na arte
brasileira”, no Paço Imperial, no Rio de Janeíro. A Pinacoteca do Estado de São
Paulo realiza a exposição “Osirarte”, na qual são mostrados vários azulejos
pintados por Volpi. O pintor está representado na sala especial “A arte e seus
materiais”, organizada junto ao VIII Salão Nacional de Artes Plásticas, na
Funarte, no Rio de Janeiro.
Em 1986, o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
apresenta a exposição “Alfredo Volpi: 90 anos. Um registro documental por
Calixto”. Olívio Tavares de Araújo organiza a retrospectiva “Volpi 90 anos”, abrangendo o período
de 1914 a 1982, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Recebe o Prêmio Artes
Plásticas Gabriela Mistral, da Organização dos Estados Americanos.
Em 1987 ocorre a exposição “A. Volpi. Obras
de diferentes décadas”, na Contorno Galeria de Arte, no Rio de Janeiro; o
artista está representado em “Modernidade: arte brasileira do século XX”, no
Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris.
Em 1988 integra a edição brasileira da
exposição “Modernidade: arte brasileira do século XX”, no Museu de Arte Moderna
de São Paulo, e a mostra “Brasiliana: o homem e a terra”, na Pinacoteca do
Estado de São Paulo. Está representado na exposição “Abstração geométrica 2 — Projeto
Arte Brasileira”, organizada pela Funarte, no Rio de Janeiro.
Volpi morre em 28 de maio, em São Paulo. (p.72)
Alfredo Volpi 1896-1988 |
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