quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Lavoura Arcaica. Raduan Nassar



Raduan Nassar é escritor contemporâneo, de narrativa ímpar, nascido em São Paulo, Pindorama. Filho de libaneses, é escritor contemplado até mesmo pela Academia Brasileira de Letras  com seu livro único Lavoura Arcaica, que pode ser considerado e comparado com uma obra de Rimbaud. Quiçá nem haja comparação plausível para o livro Lavoura Arcaica.

Estudou Filosofia, Direito, Ciências Sociais, e o curioso é que na fase do ensino médio, Raduan sofreu ataques de convulsão e ficou com deficiência de memória, o que fez com que o escritor premiado até no exterior  ficasse afastado dos estudos por algum tempo.

A estória de Lavoura Arcaica é, no mínimo histórica. Seu irmão Raja, único leitor de seus ensaios pegou seus manuscritos e mostrou para amigos da faculdade de Filosofia onde Raduan e seus cinco irmãos estudaram. Esses manuscritos acabam chegando às mãos de Dante Moreira Leite que os encaminha à editora Olympio. No ano seguinte, a José Olympio publica Lavoura Arcaica.

O livro ganha, em 1976, o prêmio Coelho Neto para romance, da Academia Brasileira de Letras, cuja comissão julgadora tinha como relator o crítico e ensaísta Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde). Recebe, ainda, o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (na categoria de Revelação de Autor) e Menção Honrosa e também Revelação de Autor da Associação Paulista de Críticos de Arte — APCA.

Em 1982, sai a edição espanhola de Lavoura Arcaica, pela editora Alfaguara, de Madri. Segunda edição do mesmo livro pela Nova Fronteira, do Rio de Janeiro. A Editora Gallimard, da França, lança Lavoura Arcaica e Um copo de cólera (outra obra prima do autor) num só volume, em 1984.

Em 1987 a editora Suhrkamp lança o livro Lateinamerikaner über Europa, uma coletânea de ensaios e depoimentos de escritores latino-americanos sobre a Europa, organizada por Curt Meyer-Clason, que inclui A corrente do esforço humano, de Raduan Nassar.

A revista espanhola El Paseante publica, em 1988, os contos Aí pelas três da tarde e O ventre seco (o primeiro seria publicado ainda na Folha de São Paulo em 1989 e o segundo, também neste ano no Jornal do Brasil).

Sai a terceira edição de Lavoura Arcaica, em 1989, pela Companhia das Letras, de São Paulo, hoje em sua quarta reimpressão. 

O Livro 

Preciso começar pela fantástica estilística de Raduan nesta obra eterna, uma narrativa subjetiva, narrada por André, filho do meio de uma família de camponeses. Este rapaz observa a vida, as tragédias e os sentimentos das pessoas da casa, mas seus olhos se detêm em sua irmã mais nova, Ana. Através de um amor livre de qualquer censura ou limite por esta irmã, André vai carpindo o horror analítico das relações humanas, compara o amor a uma aventura diabólica e se pergunta, de forma lírica e desesperada se ir-se embora daquela casa não seria melhor e menos trágico. Fascinante monólogo íntimo onde o leitor se vê um intruso nos sentimentos mais puros que um ser humano pode ter.

Esta novela trágica, merecidamente premiada e lida em todo o mundo, traz a marca indiscutivelmente sublime de Raduan Nassar narrar a história da vida, as amarguras, os anseios e as dúvidas que habitam as almas em seus recantos mais escuros, guardados em segredo pela ética e moral que o personagem André, de Lavoura Arcaica, questiona do começo ao fim do livro. São cem páginas para serem lidas sem respirar, não procure parágrafo nem muitos pontos finais, pois André está no fim da linha de seus pensamentos, no meio do nada, no meio do mato, em meio a angustiante e complexo amor.

Lavoura Arcaica é livro obrigatório, faz parte da vida de pessoas em todo o mundo e nosso autor é comparado, de certa forma, a Rimbaud que abandonou sua arte para viver como mercenário na África. Mas nosso Raduan Nassar, embora também tenha desistido de escrever para espanto do mundo literário mundial, gosta de ser visto até os dias atuais como escritor, mesmo tendo se tornado um simples criador de galinhas em sua fazenda no interior de São Paulo.

Críticos e analíticos da Literatura se perguntam por que Raduan Nassar teria se afastado da escrita, da manipulação do verbo. Muitos especulam que em Lavoura Arcaica, o escritor tenha deixado expor excessivamente seu interior. Quem lê este livro pode entender alguma coisa do que escrevi aqui. É fascinante, fantástico, uma prova de que o homem, o escritor pode desdobrar barreiras de tabus e preconceitos que nós, simples mortais, jamais imaginaríamos. E toda estória é narrada de forma lírica, trágica, incomum e muito bela. Sem igual. Eu li duas vezes e virou meu consultor de vida nas horas de angústia e questionamentos. Emocionantemente belo. E tragicamente lírico.

Infelizmente Raduan Nassar não soube lidar com o sucesso. Resolveu trocar a estética complexa e desregrada do verbo pela mecânica suave e simples da avicultura. Lamentável. 

Obras de Raduan Nassar
Editadas em livro:

Traduções:

Para o espanhol:
  • Labor arcaica (Lavoura arcaica), tradução de Mario Melino, Madri, Alfaguara, 1982

Para o alemão:
  • Mädchen auf dem Weg (Menina a caminho), tradução de Karin von Schweder-Schreiner, Colônia, Kiepenheuer & Witsch, 1982 (in — Schreiner, Kay-Michael (org.) – Zitronengras. Neue brasilianisch Erzähler.
  • Eub Glas Wut (Um copo de cólera), tradução de Ray-Güde Mertin. Frankfurt, Suhrkamp, 1991, 2a. edição em 1991
  • Nachahmung und Eigenwert (A corrente do esforço humano), ensaio, tradução de Ray-Güde Mertin. In —, Meyer-Clason, Curt (org.). Lateinamerikaner über Europa. Frankfurt, Suhrkamp, 1987. Inédito em português.
  • Das Brot des Patriarche (Lavoura Arcaica), tradução de Berthold Zilly, Suhrkamp – Frankfurt, 2004.

Para o francês:
  • Un verre de colère suavi de La maison de la mémoire (Um copo de cólera seguido de Lavoura arcaica). Tradução de Alice Railard, Paris, Gallimard, 1985.
Cinema:
Raduan Nassar
  • Um copo de cólera. Roteiro. Por Aluizio Abranches e Flávio R. Tambelllini, 1995.
  • Lavoura Arcaica: Direção e roteiro de Luiz Fernando Carvalho, estrelado por Seltom Mello, Leonardo Medeiros, Simone Spoladore, Raul Cortez e Juliana Carneiro da Cunha. Fotografia de Walter Carvalho. Trilha sonora:Marco Antônio Guimarães. Prêmios: Melhor Contribuição Artística – Festival de Montreal – Canadá – 2001; Prêmio Especial de Júri: Festival de Biarritz – 2001; Prêmio do Público: 25a. Mostra BR de Cinema – São Paulo – 2001; Prêmio Ministério da Cultura – Festival Rio-BR 2001.

Há, ainda, um sem número de artigos publicados em jornais e revistas, dissertações universitárias e entrevistas e depoimentos concedidos pelo autor.


Fonte: http://www.lendo.org/lavoura-arcaica-raduan-nassar

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