quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fernão Capelo Gaivota. Richard Bach


"Para os olhos bem treinados, onde houver movimento, vida pulsando, haverá uma boa aprendizagem. Me dêem licença os que têm a literatura como forma somente de expressão e sentimento, e não como meio didático para lição de moral. Mas desprezar uma história apenas por ela querer ensinar algo é pura rebeldia de ignorantes. Fernão, aliás, tampouco pretendia que seu aprendizado se tornasse disciplina. A trajetória do personagem que nomeia o livro ilustra como nossos papéis são substituídos aos poucos e involuntariamente, à medida que crescemos.
Evolução talvez seja o mote central desse livro. Fernão, como seu nome já o denúncia, é uma gaivota solitária, que, em princípio, fica relegada à auto-punição por não se encaixar em seu bando: enquanto as outras gaivotas se preocupavam apenas em pegar os peixes, ele queria aprimorar suas técnicas de vôo e subir cada vez mais alto. Como todo visionário, ele acaba sendo expulso dos seus, e somente aí é que sua jornada começa. Sozinho, o personagem vê-se então livre para voar quão alto quiser, e é voando mais alto que descobre o meio de subir mais ainda. Encontra gaivotas iguais a ele, que ousaram, e aprende a como lidar com suas vontades e suas virtudes.
Em um talvez “novo mundo”, Fernão percebe, pelo exemplo de gaivotas mais evoluídas que ele, o quanto ainda tem a aprender. Um de seus mestres avisa: “Você não precisou de fé para voar, precisou compreender o que era voar.” No empenho de desmentir a idéia geral de que fé é uma mágica que tudo faz, nosso protagonista avança em seus conhecimentos sobre vôo e passa, como conseqüência natural, de aluno a mestre.
E é aí que reside a beleza maior da narrativa: a responsabilidade que temos uns para com os outros, pois se se é discípulo para muitos, também se é mestre ainda que para poucos. A relatividade das relações, que entre gaivotas e homens, neste caso, se igualam, leva Fernão a compreender um sentido mais profundo de seu aprendizado, não apenas voar mais alto, mas alcançar de fato mais corações.
Com linguagem leve, despretensiosa, trama simples – aliás, sem trama, uma estória em linha reta –, leitura fácil e de alto teor ilustrativo, Fernão Capelo Gaivota é uma historinha quase-infantil que todo adulto precisaria ler, pela carga que o personagem principal carrega – a de não saber o que fazer das suas exceções –, análoga a de muita gente grande. Quem nunca se sentiu à margem de algum padrão, que arranque a primeira pena." 
Assista ao filme também:

Richard Bach
 

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