quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vinho sem segredos. Patricio Tapia

Se você é daquelas pessoas que não sabe porque não gosta de "vinho-de-colônia", ou muito equivocadamente pelo contrário, não gosta de "vinho-fino". Se você é daquelas pessoas que acha o vinho "muito-forte", ou "muito-azedo" ou "muito-doce", ou por qualquer outra razão não gosta deste ou daquele vinho. Então, eis um livro que irá mudar radicalmente seu modo de ver e apreciar vinhos. 
Não vou mentir. Eu não gostava muito de vinhos finos (além de achá-los um pouco caros), aliás devo dizer que não sabia apreciar vinho, e bebia vinhos coloniais por serem mais "baratos". E tudo mudou, quando li "Vinho sem segredos", de Patricio Tapia. Residindo a 60 km da Argentina, um país que produz vinhos de altíssima qualidade a preços até mais baratos que os "coloniais" do Brasil.  Li o livro de forma paulatina, aos pouquinhos e, na medida em que conhecia o nome de uma uva até então desconhecida, lá ia eu à procura de um vinho com aquela casta recém conhecida. Provei quase todos os vinhos cujas castas estão descritas no livro. Em pouco mais de um ano, catoguei mais de 50 garrafas de vinhos apreciados, bons e excelentes, de preços que variaram entre R$6,00 (seis reais) a R$40,00. Os vinhos que não gostei foram poucos, pois pude apreciar o tipo de vinho com a forma de beber e os seus acompanhamentos. Publiquei uma lista dos vinhos apreciados no blogue "Átimos Ótimos" (clique aqui).
Hoje, com meu gosto mais seleto, aprecio mais um Cabernet Savignon (os chilenos são meus preferidos, junto com um Carmenère), Malbec (os argentinos são os melhores), Merlot (argentinos, uruguaios e brasileiros) e, dos brancos, o Chardonnay. Sabendo como escolher e entendendo qual o vinho que acompanha determinados pratos, além de conhecer o caminho-das-pedras na compra de um bom vinho, nunca mais cometerei a gafe de dizer: "não gosto deste vinho". O vinho requer interpretação, momento, clima, forma de degustar, os acompanhamentos e a companhia. E não compro "vinhos" nacionais que tenham no rótulo "demi-sec", pois se trata de vinho adulterado, suavizado por processos suspeitos, ou com água ou adição de açúcar. Também não compro vinhos cujas garrafas não são fechadas com rolha.
Abaixo segue a transcrição das orelhas do livro, introdução e uma parte que achei muito oportuna. Tenham uma boa leitura e bebam muito vinho.
"Imagino que você já ouviu dizer que o vinho é uma bebida capaz de nos transportar para locais onde nunca estivemos. Também deve ter escutado que o vinho é um reflexo da sua origem, das uvas com as quais foi produzido, do lugar onde as parreiras cresceram, e que inclusive reflete a personalidade do homem ou da mulher que o fez.
Mas é muito importante lembrar que o vinho é apenas isso: vinho. Um líquido que é bebido há milhares de anos e continuará sendo-o por muitos mais. O guia Vinho sem segredos tenta “desdramatizar” o assunto. Se o que lhe interessa é conhecer esta bebida, examiná-la, esquadrinhar seus segredos e sair disso vivo e alegre, este livro vai lhe servir. Nestas páginas tentei abordar os aspectos fundamentais do vinho, desde o vinhedo até a guarda, descrevendo tipos de climas, estilos de vinificação e conselhos para o consumo. Você também encontrará relações entre vinhos e comida, e poderá aprender sobre os principais aspectos da degustação e do serviço.
Podemos decifrar o que vamos beber cheirando a rolha? O que é um sommelier? Como se faz um espumante e qual a melhor forma de bebê-lo e combiná-lo? Que tipo de taça é melhor para degustar meus vinhos favoritos? Todas estas respostas e muitas mais você vai encontrar aqui.
É provável que, se não sabia nada do tema, Vinho sem segredos lhe ensinará algumas coisas e, se já sabia, este livro vai reforçar seus conhecimentos e aprofundar vários deles. Mas minha verdadeira fantasia é que, depois de ter este guia, você seja capaz de responder com certa propriedade, e com um ou outro adjetivo, uma pergunta mais radical: gosto ou não do vinho que estou bebendo? Por quê? Simples assim. Como o vinho.
Patricio Tapis"

“Quanto menos, melhor

O equilíbrio adequado entre climas, solos e variedades é apenas o começo na distante jornada em busca da qualidade do vinho. Um dos fatores fundamentais é a quantidade de cachos por planta, o que é conhecido tecnicamente como rendimento. Aqui, a teoria do quanto menos, melhor, é fundamental. 

A maioria dos vinhos baratos, embalados em caixas tetra-pack ou vendidos em econômicas garrafas de litro, em geral são originários de vinhedos de produção abundante. Daí a ausência de corpo, sabores e aromas, daí o desapontamento de quem os degusta. (grifei) 

Se um viticultor pretende elaborar um vinho de qualidade, primeiro deve desbastar a parreira, ou seja, cortar um certo número de cachos para que os remanescentes recebam todo o alimento que as raízes obtêm do subsolo e que é elaborado pelas folhas através da fotossíntese. Vamos por partes.

Solos férteis, ricos em matérias orgânicas e com boa retenção de água, formarão um sistema radicular fraco, que não necessita se desenvolver para obter o que necessita, ou seja, água. Por que água? Porque este elemento é vital no momento em que a planta vai produzir folhas, e, conseqüentemente, fundamental para a fotossíntese. O resultado clássico de solos férteis com má drenagem são cachos de uvas enormes e de sabores aguados. As pesadas argilas ou os solos excessivamente limosos são clássicos desta categoria. 

Em solos pobres, com alta quantidade de pedras, ou em solos arenosos com subsolos de rochas, a água escorre com facilidade, obrigando as raízes a buscá-la nas camadas mais profundas. Nesse trajeto, não apenas encontrarão alguma umidade, mas também minerais que tornarão complexo o vinho resultante.(grifei) Da mesma maneira, folhas que realizam fotossíntese em parreiras com menor número de cachos distribuirão melhor o seu açúcar, fazendo o amadurecimento de cada uva também ser melhor.

Historicamente, muitos produtores no mundo procuraram privilegiar a maior quantidade de produção. Como hoje em dia todos falam que a qualidade está associada a uma menor produção, muitos passaram a gerenciar seu vinhedo com ênfase na teoria do quanto menos, melhor. A arma principal na luta para baixar o rendimento é reduzir a quantidade de cachos por parreira, o que é realizado em diferentes momentos do ciclo de crescimento da planta.

Inicialmente pode-se diminuir o número de brotos quando o cacho ainda não está formado; em seguida, pode-se cortar os cachos antes que comecem a amadurecer ou tomar cor, processo chamado pelos franceses de vindima verde.” (p.23/26)

Patricio Tapia

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