terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A morte de Bunny Munro. Nick Cave

"Bunny Munro é um vendedor de produtos de beleza. Não qualquer um, mas ‘O’ vendedor de produtos de beleza. Com um magnetismo sexual superado somente por sua líbido impossível de ser saciada suas vendas de porta em porta mais se parecem com cruzadas em que conquista os bolsos e corpos de suas clientes.
 
Bunny, porém, é um pai de família. Tem um filho de 9 anos, Bunny Júnior, e uma esposa, Libby. E ele os ama. Sua falta de controle e seu desprezo por tudo e todos, no entanto, destroem sua família. Com o suicídio da esposa, um filho esquisito para cuidar ao mesmo tempo em que descobre que o próprio pai está morrendo de câncer, Bunny não sabe aonde ir. E assim começa sua jornada recheada de drogas, tristeza e vaginas, em direção à morte, que ele pressente estar próxima.

Assim é o segundo livro do australiano Nick Cave, mais conhecido por seu trabalho como compositor e vocalista dos ‘Bad Seeds’ e do ‘Birthday Party’. O livro, aliás, possui um peso semelhante ao das músicas de Cave: uma ânsia sexual mal-reprimida perdida em meio a um mar de remorsos e de tristeza.

Uma espécie de Neil Gaiman em preto e branco, Cave é obsceno. Extremamente obsceno. Difícil uma página que não contenha uma palavra de cunho sexual. De baixo calão. E não existe um capítulo sequer em que Bunny não fantasie sobre as partes íntimas de Avril Lavigne ou de Kylie Minogue. Isso, porém, não faz com que o livro se torne menos bonito. Ao contrário, esse vocabulário ‘sujo’ e toda a perversão do anti-herói são muito bem utilizados. E existe ainda o contraste: em algumas partes em o foco narrativo é o pequeno Bunny Júnior, que é um garoto inteligente e curioso, de natureza gentil, e que idolatra e ama o pai com todas suas forças, fazendo com que em alguns momentos o livro se tornem bastante singelos.

Alguns elementos bizarros aparecem para dar um pouco mais de cor - ou, ao menos, alguns intrigantes matizes de cinza - ao romance: as aparições da esposa morta; um assassino que se veste de diabo e ruma do norte para o sul da Inglaterra, onde acontece a ação; um caminhão misturador de cimento com os dizeres ‘DUDMAN’ em sua lataria e as lembranças da vida pregressa de Bunny.

Eu sou um grande fã da música de Cave. E posso dizer que como escritor ele tem a mesma qualidade que como músico - ele consegue fazer exatamente a mesma coisa, despertar os mesmos sentimentos difíceis de nomear, em um romance sobre segundas chances, em um mundo em que elas não existem mais."

Autor: Luciano R. M.. Ele é estudante de medicina, mas prefere literatura e arte. Não acredita em médicos que não leram Dostoevski.

Um comentário:

  1. Muito bom, acho Nick Cave genial... E seu livro com certeza é uma extensão de suas letras...

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