"Silêncio de ecos apenas".
Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2007, o livro de Maurício de Almeida é um livro de contos. No entanto, à exceção do primeiro "Três a caminho" (com algumas características padrões de narrativa) e o último "uma pedra à mão" (algo mediano como um poema em prosa), os demais foram utilizados para uso experimental de uma espécie esdrúxula de reflexão filosófico-existencialista de personagens que se confundem como se fossem um só. Os contos parecem ser sempre o mesmo, como se o leitor estivesse lendo sempre a reflexão do mesmo personagem do mesmo conto da mesma página. Gerando uma desconfortável e tediante agonia. Não compreendi realmente a idéia do experimento, que até ousou, desnecessariamente, na estrutura formal do texto, com omissão de pontos finais, dando a sensação de falta de ar e insatisfação. Há excesso de adjetivos e advérbios, tornando as frases muito cansativas, passando a idéia de constante repetição. Coloco aqui um trecho da obra que, em parte, resume o que quero dizer do conteúdo dos contos:
"Zuniam entre eles murmúrios de palavras esquecidas e outras irremediavelmente pronunciadas na inconstância da busca por entendimento - aquele era um silêncio de ecos, apenas." (p. 102, conto "Instante") negritei;
Na contra-capa, Daniel Piza faz um esforço em resumir a obra, dizendo vaga e imprecisamente: "...Maurício de Almeida consegue uma combinação incomum entre a linguagem inventiva e a fluência narrativa. Lança mão de vários recursos técnicos sem ser cansativo (?) ou obscuro, pois sua razão de ser está na própria história que conta... A partir de cenas e falas banais do cotidiano, o autor faz um exame das tensões nos relacionamentos humanos, por gênero ou geração. As vozes dos personagens são críveis e há belos achados verbais (?)."
Claro que discordo do que diz o Daniel Piza, mas "cada um" é "cada um". É comum na leitura de um texto, o leitor fazer aquela imagem mental, como um pequeno filme, mas em "Beijando Dentes" a imagem do filmezinho vem nublada, densa, difícil, gerando um desconforto, uma insegurança.
Leyla Perrone-Moisés fala em "coletânea... de contos fortes, tanto pela temática, geralmente sombria, como pela linguagem. Encontramos aí monólogos e diálogos de personagens exaltados, quase alucinados..." (orelha do livro).
A partir daí concluo que "Beijando Dentes" não é um livro ruim, não, absolutamente. Vencedor de um prêmio, em cuja disputa concorreram mais de mil escritores. Trata-se de um livro difícil, incomum, que não irá agradar ao leitor convencional, acostumado com certos padrões literários. Contudo, acredito que a inovação apresentada por Maurício de Almeida tem justamente no maçante, na angústia e no desconforto seu ponto positivo. É ler para crer.
2008 - 80 páginas
R$27,90
Sinceramente, desisti de ler livros que recebem prêmios literários, especialmente esse do Sesc, pois as experiências que eu tive não foram nada positivas. Li "Quiça" e "Contos de Mentira" da Luísa Geisler e achei os livros horríveis; são pretensiosos e maçantes. Pelo que vejo, os jurados do prêmio Sesc privilegiam a inventividade e a forma, ainda que elas prejudiquem a comunicação com o leitor e a fluência da leitura. Se o escritor seguir o padrão forma clássica de escrita, ele não terá a menor chance. O trecho que você selecionou mostra bem isso. Claro que teria que ler todo o conto para fazer uma análise mais precisa, mas tal trecho, para mim, é de um esforço fracassado de parecer profundo; é malabarismo subjetivo que não diz nada; mais confunde que comunica. Os jurados se deliciam com isso: "Nossa que pensamento profundo!", sendo que nem eles mesmos entenderam o que o autor quis dizer. Não sei se Machado de Assis ganharia um prêmio Sesc.
ResponderExcluirAbraços.
Concordo com seu ponto de vista, Ricardo Aquino. "Malabarismos subjetivos" como estes desestimulam o leitor tradicional e afastam os incipientes, o que é um desserviço pedagógico. Abraço.
Excluir