Contos curtos e dinâmicos, estruturados em narrativas com estilo contemporâneo de literatura. O autor soube dosar, com maestria e fugindo da soberba, seu amplo domínio das variações estilísticas, sem cair na monotonia ou beirar a incompreensão. São narrativas para criar desconforto, incômodo, frustração intelectual até. Devemos ler mais, muito mais, sem limite. As certezas do autor são questionadas e questionáveis. E elas aparecem ora como se fossem proverbiais, ora como simples (?) reflexão filosófica e estão ali para intimidar o leitor. Não que isso seja negativo, mas é uma situação que nos desafia. Reflexão nunca é demais. As “palavras” são escolhidas apropriadamente, trabalhadas, dissecadas, sufocadas até, para que o leitor descubra seu nivelamento. As citações de livros, autores, música, filmes, são para criar certos “links” e então tirarmos o traseiro do sofá e ir em busca do saber. Que também nunca é demasiado.
O nome do livro, por acaso, coincide com o título de um dos textos (contos) da obra, mas acredito que não foi este o motivo da escolha pelo escritor. Em “As certezas e as palavras”, o autor catarinense trabalha reiteradamente com ambas as expressões nos 20 contos que integram o livro.
Carlos Henrique Schroeder, em certos textos, apresenta narrativas com palavras ásperas e duras, mas sempre apropriadas (em momentos), as quais todos conhecemos, embora o uso delas pelos leitores varie pelo grau de auto-policiamento vocabular. Outras vezes, talvez num excesso ou vacilo intelectual, não sei, chega à perfeição, como em “Indie” (p.82), sublime e encantador. Mais uma prova de que a literatura não é uma forma de fuga da realidade. A literatura tem sua função social: questionar, induzir à reflexão. Pode não ser sempre “de todo”, mas “principalmente”. O livro de Carlos Henrique Schroeder é excelente em todos os aspectos. O meu próximo da lista é “Ensaio do Vazio” (2006 - do mesmo autor). Agora já sei o que me espera. Boa leitura a todos.
A seguir, outros comentários. Só para não dizerem que estou exagerando ou mentindo:
"As Certezas e as Palavras é o nono livro do escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder. Reúne mais de 20 contos deste autor, alguns deles inéditos, outros já editados em coletâneas, revistas ou jornais nos últimos cinco anos. As relações entre as certezas e as palavras são o tema de uma série de histórias sólidas, totalmente viscerais e desafiantes, tanto em linguagem quanto em técnica." Correio do Povo, 20/3/2010.
"Em 19 contos curtos, o autor catarinense desfia uma narrativa irônica e afiada ao construir personagens inusitados, como os irmãos que vão passar um tempo juntos no cemitério a pedido da mãe ou aquele que encara os rodapés de livros como a parte mais interessante da vida. O nono livro de Schroeder é dividido em cinco partes e traz ainda homenagens a Virginia Woolf, Rimbaud e Shakespeare." Correio Braziliense, 18/2/2010.
"Não é à toa que Formas breves, do argentino Ricardo Piglia, é lido por um dos personagens de Schroeder. Ele sabe que o conto precisa ir direto ao assunto e que sua essência está no esmero técnico. Como também o disse Cortázar, o conto se faz menos de "o que diz" e mais do "como diz". O uso de elipses, do diálogo sem maiores caracterizações de espaço e tempo, o encadeamento de cenas que lembra o texto para teatro sem rubricas, a linguagem debochada e o ritmo vertiginoso são algumas das qualidades desse As certezas e as palavras." Resenha de Ieda Magri, no Ideias & Livros, do Jornal do Brasil, 26/2/2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário