quinta-feira, 26 de maio de 2011

Assassinos Profissionais. Gordon Kerr

"Eles não sentem remorso. Eles não olham para trás. "
"Sua profissão é matar. E eles querem cumprir seu trabalho
da maneira mais eficiente possível. "

“Assassinos profissionais estão por aí desde sempre. São homens que matam por dinheiro, por encomenda, para receber algo em troca.  Os assassinos profissionais de maior sucesso são pessoas que matam sem culpa. Para fazer isso não se pode ter consciência ou qualquer medo das consequências do seu ato.
“Little Nick” Scarfo, da Filadélfia, não tinha nenhum problema em matar. Na verdade, sentia prazer. Tanto que mesmo quando se tornou chefe nada era melhor do que acompanhar seus soldados em assassinatos.
Também devem estar na relação de pré-requisitos, para ser um assassino profissional, a capacidade de absoluta precisão e atenção aos mínimos detalhes. O matador verdadeiramente bom faz seu trabalho de casa, estudando atentamente sua vítima, seus hábitos, amigos e colegas, os lugares onde bebe ou compra jornal.
Ele o segue durante dias e às vezes semanas, determinando qual a rotina da vítima, buscando possíveis locais para o assassinato e, claro, se assegurando que haja uma rota de fuga para escapar da cena do crime o mais rápida e tranquilamente possível.  
Método é fundamental, e deve estar no topo de sua lista. Obviamente, ferimentos de faca ou buracos de bala deixam óbvio que houve um assassinato premeditado. Acidentes preparados são, sem dúvida, as melhores formas de se livrar de alguém sem ser apanhado. Um dos métodos preferidos de vários assassinos profissionais envolvia aquele instrumento acessível porém mortal, o picador de gelo. Normalmente usado para quebrar gelo, é uma ferramenta simples, um pouco como uma chave de fenda afiada. Usada com eficácia — enfiada na orelha da vítima até o cérebro, por exemplo — pode matar a pessoa instantaneamente e quase sem derramar sangue. A outra vantagem do picador de gelo é dificultar a identificação da causa da morte. Há vários tipos diferentes de matadores profissionais. Os candidatos são com maior frequência homens. Mas o amador é uma categoria de assassino profissional a ser evitado a qualquer custo. Com grande frequência já está envolvido com o crime, provavelmente do tipo inferior. Apenas isso já cria vários problemas, aumentando a probabilidade de que seja apanhado. Para começar, já é conhecido da polícia por suas outras atividades.
Com a atual disponibilidade de testes de DNA e outras técnicas de investigação, um pequeno erro, um detalhe mínimo, será suficiente para levar a lei até ele e, finalmente, a você. E esse é o segundo elemento — erros. Por natureza o amador não fará o trabalho com a fria eficiência do profissional, e normalmente é apanhado. Então, contrate apenas o profissional consumado. Você só precisará dar as orientações, pagar e esperar. No tempo necessário para fazer direito, ele se moverá, executará o serviço e sumira na paisagem tão rapidamente quanto surgiu. Desaparecerá. Trabalho concluído.
SOBRE O LIVRO
Matar para viver é uma profissão muito especializada. Se você pretende colocar um anúncio no jornal pedindo um matador deve procurar algumas qualidades especificas. Neste livro você vai encontrar a história de assassinos profissionais mundialmente conhecidos, que matam sem culpa os integrantes de crimes organizados, assassinos calculistas que matavam apenas por um pagamento mesmo que mínimo, membros da máfia, entre outros. Para um profissional, ele não quer ter contato com o mandante do crime, ele quer apenas receber a ordem e executar seu trabalho Como se estivesse em um escritorio e tivesse de fazer a “sua” parte do trabalho. E o pagamento, para ele, equivale ao salário do fim do mês. Para seu algoz, a vitima não existe como pessoa, não tem família, não tem história. Ela é só um número a ser apagado da sociedade.”
(Fonte: Ciência e Vida Psique nº 60 p. 12 e 13)

domingo, 22 de maio de 2011

O castelo mal-assombrado. E. T. A. Hoffmann

Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann
Livro de contos (150 p.) O castelo mal-assombrado, O fantasma noivo, Até que o olho me chame, Don Juan, e O homem de areia.
Ernst Theodor Wilhelm Hoffmann — que desde cedo trocou o terceiro nome pelo de Amadeus, em homenagem a Mozart —, dono de uma imaginação prodigiosa mas considerada excêntrica por seus contemporâneos, foi diretor de orquestra, compositor de óperas, diretor de teatro, catedrático respeitado e boêmio desaforado. Sua vida desregrada redundou em morte prematura, quando mal completara quarenta e seis anos. Talento multifacetado, Hoffmann oscilou entre a mágica consciência de um rebelde e o arguto senso crítico. Atingiu em sua obra um realismo fantástico que serviu como elo de ligação entre o romantismo de seu tempo e as gerações posteriores.
E na literatura que se revela todo o seu talento, um dos mais originais do Romantismo alemão. Hoffmann possuía um forte senso de humor e sua predileção pelos temas de horror o tornou uma espécie de precursor do escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Conhecido como o primeiro mestre do fantástico e do horror, compôs uma incrível galeria de personagens grotescas, fantoches ridículos, mandrágoras, vampiros, salamandras e demônios. Comparado a outros cultores contemporâneos do gênero, como os ingleses Radcliffe, Lewis e Maturin, mostrou-se muito superior a eles, não só por escrever com arte e imaginação mas por utilizar um material bem mais variado. Em seu universo literário o aparecimento de fantasmas em noites tempestuosas ou castelos abandonados apresenta-se como manifestação do imprevisível, muitas vezes ligada a fenômenos físicos e psicológicos que somente anos mais tarde a ciência estudaria.
Embora deva a maior parte de sua fama à interpretação epidérmica dos elementos fantasmagóricos, apresentados em suas histórias, tudo leva a crer que, longe de encará-los como uma dimensão do real, Hoffmann os explorou de modo consciente como expressão dos próprios conflitos interiores, muitas vezes tomando a realidade humana corno ponto de partida dos desdobramentos da sua imaginação. Uma de suas principais novelas, “Der Magnetiseur” (“O magnetizador”), publicada em 1814, confere ao desenvolvimento do fantástico uma familiaridade de efeito ironicamente crítico e cruel, ao mesmo tempo. Em outra, “Der Goldoni Topf’ (“O pote de ouro”), escrita no mesmo ano, o ficcionista alemão constrói uma história que Baudelaire considera o “mais completo tratado de estética”, e projeta todo o conceito de idealização artística numa suprema harmonia entre o real e o imaginário. Entre seus numerosos trabalhos, os principais são o romance fantástico “O elixir do diabo” (1815), as óperas “Aurore” e “Undine” e grande número de contos, a maioria deles reunidos em quatro volumes pelos irmãos Serapiões (nome assumido por um grupo de amigos do escritor) e “Idéias do gatão Murr sobre a vida e folhetos de uma biografia do maestro Kreisler” (1820-1822), estranho livro em que às confissões de um bichano se mescla a história de um músico.
Hoffmann foi um dos mais brilhantes críticos musicais de seu tempo, o primeiro a reconhecer a grandeza de Beethoven. Ele próprio foi compositor de música sacra de câmara, assim como de algumas óperas. No entanto foi a produção literária que lhe proporcionou fama e reconhecimento, influindo de modo decisivo nas futuras gerações de escritores. Influenciou entre outros Musset e Baudelaire, na França; Walter Scott, na Inglaterra; Gógol, na Rússia; e Poe, acima de todos, nos Estados Unidos. Foi também personagem de uma ópera  e Offenbach, além de inspirar o libreto da “Tannhauser”, de Wagner, e o bailado “Copélia”, de Delibes, e influenciar muitos outros músicos, como Schumann e Berlioz.
Nascido a 24 de janeiro de 1776 em Königsberg, Alemanha, Hoffmann iniciou o curso de direito em sua cidade natal mas somente veio a completar os estudos em Berlim. Embora precocemente atraído pela pintura, literatura e música, iniciou-se profissionalmente como funcionário público na cidade polonesa de Poznan.
Logo depois foi transferido para a pequena localidade de Plock, como punição por rabiscar caricaturas pouco respeitosas de seus chefes. Depois de algum tempo no ostracismo conseguiu a muito custo uma transferência para Varsóvia. Quando pensava estar com a vida arrumada, as tropas de Napoleão Bonaparte ocuparam a cidade, e em 1806 o escritor teve de retornar à Alemanha, onde viveu anos em apuros, experimentando uma dúzia de profissões.
Em fins de 1809, ele partiu para Bamberg como arranjador e regente de orquestra, mas as dificuldades enfrentadas, sobretudo de ordem financeira, levaram-no a retomar os cargos públicos. Em 1814 foi para Berlim, nomeado juiz de uma comarca, e iniciou um período de grande criatividade, quando produziu a maioria de seus trabalhos literários. A essa altura já granjeara algum nome com suas composições musicais, a que, juntamente com a literatura, continuava a dedicar-se nos momentos de lazer. Mas as alegres farras noturnas com os amigos em pouco tempo minaram-lhe a saúde. Hoffmann morreu precocemente, a 25 de junho de 1822, de uma paralisia progressiva.
E.T.A. Hoffmann

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cock e Bull - Histórias para boi dormir. Will Self

"Começos inesquecíveis: Will Self 

(por Sérgio Rodrigues do Veja Abril)

 

Bull, um rapaz encorpado e musculoso, acordou certa manhã e não levou muito tempo para se dar conta de que, enquanto dormia, adquirira uma outra característica sexual primária: a saber, uma vagina.

A vagina brotara atrás de seu joelho esquerdo, dentro da covinha macia e flexível localizada no ponto onde terminam os tendões. É quase certo que Bull não a perceberia tão cedo, não tivesse ele como prioridade, logo ao despertar, o hábito de se inspecionar, explorando cuidadosamente todas as suas curvas e fendas.

Qualquer semelhança com Kafka não é coincidência. Nem plágio. Este é o início do primeiro capítulo, chamado justamente A metamorfose, da novela “Bull, uma farsa”, que compõe com “Cock, uma noveleta” o livro “Cock & Bull – Histórias para boi dormir”, do escritor inglês Will Self (Geração Editorial, tradução de Hamilton dos Santos, 2a. edição, 2002). Em “Cock”, em perfeita simetria, é a protagonista que um belo dia descobre entre as pernas um recém-brotado pau. Satirista feroz e, nos melhores momentos, brilhante em sua mistura de erudição, grosseria e delírio pop, Self, de 45 anos, é um autor bem estabelecido na literatura britânica, mas nunca deu certo no Brasil.

Não por falta de tentativas. Além deste livro, a Geração lançou o violentíssimo “Minha idéia de diversão”; a Objetiva, o divertido “Como vivem os mortos”; e a Alfaguara, ano passado, o engenhoso – mas um tanto esticado – “Grandes símios”. (Permanece inédito por aqui o livro de estréia de Self, The quantity theory of insanity, “A teoria quantitativa da insanidade”, de contos, que considero seu melhor trabalho.)

Apesar da insistência louvável dos editores, tudo indica que Will Self não bate muito bem com a sensibilidade literária nacional. Será que a sisudez que por aqui costumamos confundir com seriedade nos impede de apreciar o mais alucinado dos herdeiros de Jonathan Swift? Seja como for, é uma pena. Will Self merece uma chance dos leitores, embora não faça literatura para o paladar de qualquer um.

Bem cotado para vir à Flip este ano, quem sabe o homem não apronta algum golpe publicitário que mude sua sorte? Consta que Self abandonou o vício da heróina, que, quando ele era repórter do jornal “Observer”, em 1997, o levou a ser flagrado cheirando no banheiro do avião do primeiro-ministro John Major – e dali para todas as primeiras páginas da imprensa britânica. Mas outros expedientes hão de lhe ocorrer."


 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Máquinas que pensam. Isaac Asimov e outros


“Entre no espantoso mundo da antecipação”, convida Isaac Asimov no prefácio desta extraordinária antologia, incentivando assim o leitor a iniciar uma viagem fascinante ao mundo da inteligência fabricada artificialmente. Máquinas que pensam reúne os melhores contos e novelas publicados até hoje sobre robôs e computadores. Começando por “O feitiço e o feiticeiro”(1894) de Ambrose Bierce — uma das primeiras especulações sobre o que poderia ocorrer se o ser humano fosse capaz de inventar mecanismos dotados de inteligência — acompanha-se toda a evolução do medo e fascínio que o homem sempre demonstrou por esse tema tão complexo. Nomes ilustres da ficção científica do século XX, como Lester Del Rey, Harlan Ellison, Poul Anderson e Philip K. Dick, levantam aqui questões polêmicas e dilemas morais que se impõem toda vez que se pretende usurpar o caráter divino da criação. Será possível para uma forma de inteligência desenvolvida artificialmente sobrepujar e até mesmo destruir seu criador? E essa nova forma seria, na essência, boa ou má? Utilizar os recursos da nossa inteligência para obter uma vida mecânica equivale a profanar alguma lei profunda e intocável? Máquinas que pensam mostra como o futuro de ontem — o nosso presente — foi previsto pelos precursores do gênero, escritores que já na primeira metade deste século manifestaram uma visão inquietante e profética. E chega-se ao fim do volume com as estimulantes sugestões dos autores contemporâneos, empenhados em conjeturas sobre o que os robôs e computadores reservam para o futuro da humanidade. Os editores.