domingo, 17 de outubro de 2010

Contos da Palma da Mão. Yasunari Kawabata

Revistas de consultório médico, além de ótimas fontes de contaminação, pois doentes de toda sorte as manuseiam com asseio zero, também podem conter algumas dicas de leitura. E olha que era uma revista Veja (Urgh!), que alardeava no seu tradicional estilo irônico, mas desta vez positivamente, um lançamento de um livro de um prêmio Nobel de literatura, Yasunari Kawabata. Li, rapidamente, a breve resenha, depois lavei as mãos o quanto pude para não me contaminar. Bem, enfim, sobrevivi. Encomendei o livro e li. Sou fã de contos curtos e a experiência com Kawabata foi gratificante. Embora o suicídio para os ocidentais ainda seja algo ligado à doença psíquica e tachado como ato de fraqueza, não é visto da mesma forma pelos japoneses. E alguns críticos  ainda não conseguem desassociar a obra do autor.

E assim reportava a Veja: "o suicida Kawabata, Nobel de Literatura de 1968... Nascido em 1899 e morto em 1972, Kawabata de fato tentou, em sua obra, recuperar tradições japonesas ameaçadas pela influência ocidental do pós-guerra – seu romance Mil Tsurus é todo calcado na cerimônia do chá. O cultivo da tradição, porém, nunca o impediu de flertar com as vanguardas européias, em especial com o surrealismo. Contos da Palma da Mão traz 122 contos curtos (caberiam na palma da mão, daí o título da coletânea), que Kawabata produziu ao longo da carreira, entre um romance e outro – as datas de composição vão de 1923 a 1964. Alguns contos nostálgicos visitam a zona rural onde o autor passou parte da infância, mas também há incursões aos bairros mais boêmios e agitados de Tóquio. A descrição de sonhos ocupa uma parte importante da obra. O protagonista de Neve, um dos últimos contos, isola-se em um quarto de hotel para fantasiar paisagens hibernais. Apesar da brevidade das narrativas, esse é um livro para ser apreciado vagarosamente, com muita atenção para os subentendidos sexuais e as imagens líricas cinzeladas por Kawabata."

Mas foi no blogue "Café com Letras" que encontrei sintonia com o que li: "O livro reúne 122 breves contos escritos entre 1923 e 1964. As narrativas são concisas, encerrando um universo dramático em poucas páginas e abordando uma variedade grande de temas, através da observação do cotidiano, de palavras precisas e imagens fortes: morte, amor, infância, sensualidade, família e sonhos fazem parte desse repertório tratado sem sentimentalismo, divagações e muitas explicações. A imaginação do leitor fica, no entanto, impregnada de impressões e de uma atmosfera com o espírito poético da juventude do autor. O difícil trabalho de tradução dessa obra é realizado direto do japonês por Meiko Shimon, especialista na obra do autor. Yasunari Kawabata, um dos principais representantes da literatura japonesa do século XX, prêmio Nobel de 1968, esteve a frente do movimento de renovação que ocorreu nos anos 20 e 30, o shinkankakuha ou neo-sensorialismo, consolidando-se como clássico dessas narrativas curtas, pela obssessão com o mundo feminino, a sexualidade e a morte. "

 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Haxixe. Walter Benjamin


“Teoria da História? Teoria da Melancolia? Simples comentário de um ‘Comedor de Haxixe’?

Em ‘Haxixe’, o leitor encontrará algumas chaves para entender o instigante escritor alemão Walter Benjamin e seu pensamento singular.

Encontrará a presença do narrador,  personagem improvável em um mundo que impossibilita o "contar estórias".

Entenderá o conservadorismo da Universidade alemã do inicio do século, incapaz de acolher a crítica inovadora de Benjamin, com seu pensamento fragmentário, descontínuo, incompleto, nômade. Entenderá os limites de uma Razão triunfalista que marginalize as "verdades do coração", a um só tempo intransmíssiveis e ancestrais. Verdades sensitivas, as quais, tal como por ocasião da ingestão do haxixe, se dão na "fulgurância do instante"...

Sob o impacto do haxixe, o passado retorna de maneira involuntária, não como repeticão no presente, mas como o único a improvisar o futuro.

Teoria da História? Teoria da Melancolia? Simples comentários de um ‘comedor de haxixe’?”

Da apresentação de Olgária Chain Féres Matos (p.7/8).